Dia-a-dia de um distrito rural, doze concelhos e meia dúzia de pequenas cidades encravadas nas montanhas mais a norte de Portugal
01 de Agosto de 2009

Há 25 anos atrás a pacata aldeia de Zedes, no concelho de Carrazeda de Ansiães, foi notícia a nível nacional. Não pela famosa anta funerária que ali existe, mas sim pelo discurso polémico proferido pelo então bispo da diocese de Bragança-Miranda, D. António Rafael, no âmbito da realização da II Semana Cultural. Numa análise à situação política e económica que se vivia na altura, D. António concluiu que mandar dinheiro para Portugal era metê-lo num “saco roto”.

Portugal vivia então uma crise económica alarmante que “obrigou” o governo do bloco central (PS/PSD), liderado por Mário Soares e Mota Pinto, a pedir a intervenção directa do Fundo Monetário Internacional (FMI). Foi nesse ano que se verificou uma inflação recorde de 29,3 por cento; um crescimento negativo do Produto Interno Bruto; o aumento do desemprego; o aumento das falências e um número crescente de trabalhadores com salários em atraso.

Muitos portugueses, sobretudo de Trás-os-Montes e da região Norte, encontravam-se emigrados em França, na Alemanha, na Suíça ou no Luxemburgo. Este foi um fenómeno que ocorreu em força sobretudo nos anos 60 e que afectou muito as populações rurais, que, dado os desequilíbrios regionais e o atraso da agricultura, procuraram fontes alternativas de rendimento. As remessas enviadas geravam um fluxo financeiro de grande importância, mas isso não se estava a reflectir em todo o país.

Convidado a reflectir sobre a problemática, D. António Rafael pôs o dedo na ferida: o dinheiro dos emigrantes transmontanos não chegava ao Nordeste Transmontano.

“Vedes como vamos de vias rápidas, estradas, obras públicas, e como estaria todo o distrito, se não fossem as vossas construções de habitação, o desenvolvimento promovido pelos que retornaram do Ultramar e as iniciativas e realizações das autarquias. Não é para o investimento e fomento nacional, porque vós vedes como por todo o país, os edifícios públicos estão em crescente degradação e as empresas nacionais em aceleradas descida para a falência. Os vossos milhões de contos são para financiar o esbanjamento e o lordismo nacional, ou mais exactamente a mandriagem e a corrupção generalizada e retardar a bancarrota. (...) Os emigrantes deviam pedir do Estado que investisse o seu dinheiro no Nordeste, desenvolvendo a região, criando postos de trabalho e condições de vida para o seu regresso, ou então valorizá-lo para vos o terdes à disposição e poderdes investi-lo e aplicá-lo onde quisésseis e como quisésseis. (...)

Estamos a gastar o que não temos e a consumir o que não produzimos. Custa dizê-lo, mas a verdade é esta: mandar dinheiro para Portugal é metê-lo em saco roto”.

A frontalidade e a dureza das palavras ditas quebrariam a placidez de um Verão que se esperava “politicamente frio”. Para além do Mensageiro, dois jornais diários publicariam o discurso de D. António na íntegra, enquanto que outros alimentariam a polémica do “Saco Roto” durante algum tempo.

A expressão ganharia tal força que, em 1985, o jornal Mensageiro tinha inclusive uma coluna com esse nome onde analisava a situação da região e do país.

Passados 25 anos, a Associação Cultural e Desportiva de Zedes e a Junta de Freguesia local vão evocar as memórias desse dia e desses tempos. Assim, hoje, 1 de Agosto, será inaugurada uma exposição com antigos jornais que deram notícia do acontecimento. A associação espera ainda conseguir outros registos, nomeadamente fotográficos, de particulares que tenham estado presentes no evento.

João Sampaio, presidente da direcção da Associação, vai também fazer uma reflexão sobre “o poder da palavra: dada e escrita”.

01 de Julho de 2009

 Há 25 anos atrás a pacata aldeia de Zedes, no concelho de Carrazeda de Ansiães, foi notícia a nível nacional. Não pela famosa anta funerária que ali existe, mas sim pelo discurso polémico proferido pelo então bispo da diocese de Bragança-Miranda, D. António Rafael, no âmbito da realização da II Semana Cultural. Numa análise à situação política e económica que se vivia na altura, D. António concluiu que mandar dinheiro para Portugal era metê-lo num “saco roto”.

Portugal vivia então uma crise económica alarmante que “obrigou” o governo do bloco central (PS/PSD), liderado por Mário Soares e Mota Pinto, a pedir a intervenção directa do Fundo Monetário Internacional (FMI). Foi nesse ano que se verificou uma inflação recorde de 29,3 por cento; um crescimento negativo do Produto Interno Bruto; o aumento do desemprego; o aumento das falências e um número crescente de trabalhadores com salários em atraso.

Muitos portugueses, sobretudo de Trás-os-Montes e da região Norte, encontravam-se emigrados em França, na Alemanha, na Suíça ou no Luxemburgo. Este foi um fenómeno que ocorreu em força sobretudo nos anos 60 e que afectou muito as populações rurais, que, dado os desequilíbrios regionais e o atraso da agricultura, procuraram fontes alternativas de rendimento. As remessas enviadas geravam um fluxo financeiro de grande importância, mas isso não se estava a reflectir em todo o país.

Convidado a reflectir sobre a problemática, D. António Rafael pôs o dedo na ferida: o dinheiro dos emigrantes transmontanos não chegava ao Nordeste Transmontano.

“Vedes como vamos de vias rápidas, estradas, obras públicas, e como estaria todo o distrito, se não fossem as vossas construções de habitação, o desenvolvimento promovido pelos que retornaram do Ultramar e as iniciativas e realizações das autarquias. Não é para o investimento e fomento nacional, porque vós vedes como por todo o país, os edifícios públicos estão em crescente degradação e as empresas nacionais em aceleradas descida para a falência. Os vossos milhões de contos são para financiar o esbanjamento e o lordismo nacional, ou mais exactamente a mandriagem e a corrupção generalizada e retardar a bancarrota. (...) Os emigrantes deviam pedir do Estado que investisse o seu dinheiro no Nordeste, desenvolvendo a região, criando postos de trabalho e condições de vida para o seu regresso, ou então valorizá-lo para vos o terdes à disposição e poderdes investi-lo e aplicá-lo onde quisésseis e como quisésseis. (...)

Estamos a gastar o que não temos e a consumir o que não produzimos. Custa dizê-lo, mas a verdade é esta: mandar dinheiro para Portugal é metê-lo em saco roto”.

A frontalidade e a dureza das palavras ditas quebrariam a placidez de um Verão que se esperava “politicamente frio”. Para além do Mensageiro, dois jornais diários publicariam o discurso de D. António na íntegra, enquanto que outros alimentariam a polémica do “Saco Roto” durante algum tempo.

A expressão ganharia tal força que, em 1985, o jornal Mensageiro tinha inclusive uma coluna com esse nome onde analisava a situação da região e do país.

Passados 25 anos, a Associação Cultural e Desportiva de Zedes e a Junta de Freguesia local vão evocar as memórias desse dia e desses tempos. Assim, no dia 1 de Agosto será inaugurada uma exposição com antigos jornais que deram notícia do acontecimento. A associação espera ainda conseguir outros registos, nomeadamente fotográficos, de particulares que tenham estado presentes no evento.

João Sampaio, presidente da direcção da Associação, vai também fazer uma reflexão sobre “o poder da palavra: dada e escrita”.

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obrigado Cris:)
Bem vinda :))
Helder Fráguas sofreu a perda da sua companheira, ...
Para mim e para muita gente a volta às adegas para...
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