Duas instalações, dois artistas, duas temáticas diferentes. Luís Melo é o mais recente pintor a expor no Centro de Arte Contemporânea uma colectânea de que congrega obras de distintas fases da sua carreira.
As grandes telas apresentadas mostram “rostos depurados, aparentemente padronizados, contidos, como se buscasse a perfeição plástica de simetrias e contornos e, paradoxalmente, a inexpressividade”, explicou o director do Centro de Arte Contemporânea, Jorge da Costa. E são os olhos e a linha do olhar que mais se destacam, a par com elementos, que revelam e ocultam, e que se conjugam nas suas composições, como tesouras, agulhas, cadeiras, malhas de rede, asas de insectos ou flores.
O artista, natural de Bragança, procura explorar as multiplicidade das representações formais aliando à pintura múltiplos materiais e objectos como recortes de revistas, mapas, poemas, fotografias, gravuras ou composições numéricas. Em suportes cúbicos, Luís Melo amplifica a dimensão das suas pinturas, dando-lhe tridimensionalidade e atribuindo-lhe a categoria de objectos que, quando colocados no chão, tendem a confundir-se com esculturas.
A par com Luís Melo, Graça Morais procedeu a uma renovação do seu espaço permanente abordando, mais uma vez, a temática da religiosidade. “Procissão” é o título do novo acervo mostrado ao público, uma viagem às suas memórias de uma infância passada em Vila Flor. Graça Morais relembra a romaria de Nossa Senhora da Assunção nos traços informais do desenho e em grandes telas que evocam a memória de todo o povo transmontano.
“É um voltar à infância, ao que senti naquela procissão”, explicou a artista, constatando que a identidade transmontana está muito ligada a rituais e ao pagão, mas também à religião cristã.
As obras de Luís Melo vão estar em exposição até dia 30 de Março. Já Graça Morais vai apenas renovar o seu acervo de seis em seis meses.
“É muito complicado, para mim, alterar a exposição de três em três meses porque estou em franca produção”, contou a artista.
FAN no Centro de Arte
O Teatro Municipal de Bragança e o Centro de Arte Contemporânea aliaram-se para, pela primeira vez, organizarem um concerto fora de portas, no âmbito do Festival de Ano Novo. Assim, coube aos Saxacordeon abrirem a exposição com um espectáculo musical que integrou obras originais de saxofone e acordeão, bem como obras de Jorge Salgueiro, Dmitri Schostakovich, Jean-Pierre Solves e Mário Pagotto, Astor Piazzola, Vitornino Matono e até música tradicional húngara.
Um raro e único projecto que encheu a casa e fez o pleno da integração e conjugação de duas expressões artísticas díspares, de grande qualidade.
“Estamos a viver em Trás-os-Montes sem fronteiras culturais”, comentou a artista Graça Morais, apontando aquele momento como “algo exemplar” para a interligação dos diferentes espaços culturais.
Esta foi a primeira vez que o “Teatro” saiu fora de portas, uma experiência pioneira que, no entender da directora do Teatro Municipal, Helena Genésio, foi “uma aposta ganha”.
“Foi a primeira vez que fizemos esta experiência e o resultado está à vista: está muita gente e é uma verdadeira festa”, apontou a responsável cultural.
Saxacordeon foi o terceiro concerto do Festival de Ano Novo que se realizou em Bragança, o primeiro fora de portas. A experiência vai voltar a repetir-se com os “Concertinhos”, no dia 27 de Janeiro, às 15h00 e às 18h00, no Conservatório de Música de Bragança. Os “Concertinhos” vão abordar a história infantil de Brunhoff e do pequeno elefante Babar. Direccionados para as crianças, os “Concertinhos” vão contar uma história interpretada ao piano por João Tiago Magalhães e narrada pelo actor Fernando Soares, com a ajuda de um jovem mimo.