As denúncias de pedofilia que envolvem elementos da Igreja Católica criaram «o estereótipo de que todos os padres são pedófilos», criticou Calado Rodrigues, um sacerdote que agora admite «algum receio» em ter manifestações de afecto por crianças, escreve a Lusa.
«Tenho uma relação muito afectiva e próxima com algumas crianças, até porque tenho um lar de menores com crianças institucionalizadas que vêm de contextos familiares degradados e difíceis», explicou o sacerdote, pároco em Bragança.
Com as recentes denúncias públicas de casos de pedofilia em vários países, Calado Rodrigues admite que já hesita em ter simples gestos de afectividade como pegar numa criança ao colo.
Agora, o sacerdote reconhece ter «algum receio de manter o mesmo estilo de comportamento» com os menores, uma situação que acaba por prejudicar a sua «vida pastoral».
Apesar disso, Calado Rodrigues considera que «não é por causa das generalizações que um padre deve deixar de ser afectivo», sobretudo com «crianças que precisam, porque não tiveram família, e que encontram na Igreja o refazer da sua personalidade, com relações pessoais».
O estigma pode prejudicar também o trabalho da Igreja no seu todo junto dos mais carenciados e com jovens que outros organismos recusam.
«Em Bragança as únicas instituições para rapazes e raparigas que recebem estes casos problemáticos são da Igreja», recorda o sacerdote de 41 anos, que dirige o Centro Paroquial e Social local e o jornal Mensageiro de Bragança.
O lar de menores é orientado pelas Irmãs Doroteias, «pessoas com grande experiência no campo do ensino e do acolhimento de crianças, acima de qualquer suspeita, e que dão garantias de que não há casos de pedofilia ou de violência».
O sacerdote diz que nunca foi confrontado com qualquer suspeita ou denúncia de pedofilia mas, se isso sucedesse, promete que «agiria de acordo com as orientações do Vaticano, comunicando o caso à justiça e ajudando psiquiatricamente a pessoa envolvida».
Comentando a polémica da pedofilia, Calado Rodrigues considera «gravíssimo» que existam sacerdotes envolvidos, uma situação que causa embaraço e transtorno a outros padres que nada têm a ver com isso e à própria instituição.
«As famílias e a sociedade confiam-nos as crianças porque acham que temos capacidade para as educar, pelo que, tais práticas são inadmissíveis», frisou.
Fonte: Diário IOL/Lusa