Dia-a-dia de um distrito rural, doze concelhos e meia dúzia de pequenas cidades encravadas nas montanhas mais a norte de Portugal
14 de Agosto de 2009

Nasceram há pouco mais de ano e meio e já foram distinguidos pelo Instituto Português da Juventude (IPJ) pelo dinamismo que imprimem às actividades que desenvolvem junto dos jovens mirandeses. Fartos da monotonia e passividade que consideram resultar da “ausência de políticas estruturais para a juventude”, criaram a Associação Recreativa da Juventude Mirandesa (ARJM). O objectivo é a defesa dos interesses dos jovens e população em geral, promovendo actividades recreativas, desportivas e culturais, afirmando a língua e a cultura mirandesa e promovendo Miranda do Douro e o sentimento de ser mirandês no exterior.

O orgulho que têm em ser mirandeses está bem patente na forma como insistem em manter viva a língua, apelando às raízes com frases como as que estamparam em t-shirts e que dizem: “Ser mirandês ye sexy” ou “já conheces a minha língua? MIRANDÊS”.

“Estas t-shirts foram um sucesso, pois os mirandeses gostam muito de mostrar as suas raízes e nada melhor que estas frases para os identificar em qualquer sítio”, apontou Ivo Mendes, dirigente associativo.

Interessados em tudo o que acontece no concelho mirandês, os jovens dirigentes aproveitam todas as oportunidades para divulgar a língua mirandesa. A título de exemplo, Ivo Mendes recordou a falsa notícia da existência de crocodilos no rio Douro Internacional, notícia que levou à criação de mais t-shirts com frases em mirandês: “Eilhes andan por ende?! Naide ls biu?!”.

Ainda assim, Ivo confessa que tem sido difícil colocar os jovens a falar mirandês, apesar de, hoje em dia, já não existir qualquer “vergonha” em falar a língua.

“Os mirandeses sentem-se orgulhosos com a sua especificidade, mas não usam a língua no dia-a-dia. Nem os jovens, nem as pessoas mais adultas”.

Foi nesse sentido que a Associação apostou, no mês passado, na promoção da campanha “Bibe an Mirandês”, para assim comemorarem também os dez anos da oficialização da língua. Outra das iniciativas a desenvolver nesse âmbito é a criação de um jornal e de um programa para rádio, ambos em Mirandês. Os jovens propõem-se, ainda, a traduzir o material de restauração e do comércio e realizar vários cursos para que o uso do Mirandês se vulgarize no concelho.

 

Ser Mirandês

Mas o que é para um jovem este sentimento de ser mirandês? Num apelo às raízes e ao modo de vida rural que ainda persiste, Ivo responde: “é crescer numa comunidade familiar onde dizemos boa tarde a todas as pessoas por quem passamos na rua; é acompanhar os colegas de turma da primeira classe até ao 12º ano, criando com eles laços para toda a vida”. Mas, mais do que isso, na opinião do jovem, ser mirandês é também “saber receber, saber acolher com maior hospitalidade, com maior sentimento, fazer sentir bem quem nos visita”. É ter uma língua diferente e “não ter vergonha de a falar”, é “ser boémio, é viver de noite e trabalhar de dia” mas, acima de tudo, “é gostar de Miranda, é sair, mas voltar”.

É talvez por causa deste sentimento que a ARJM consegue envolver nas actividades que promove vários jovens oriundos de outra localidade, fazendo-os “absorver Miranda”.

“Fazemos com que tenham contacto directo com a nossa terra, mostrando-lhes todo o nosso património cultural, linguístico, gastronómico, paisagístico e arquitectónico”. Como “pano de fundo” são realizados eventos que promovem a cultura tradicional, desde a dança à música, passando, obviamente, pela língua.

Foi a ARJM que promoveu, em Dezembro do ano passado, o primeiro festival de cultural tradicional, o Geada, e foi também através do apoio da Associação que se formou o grupo dos Gaiteiricos de Miranda, que, a par com o Grupo de Pauliteiros da Cidade de Miranda do Douro, contribuem para preservar e “exportar” a cultura mirandesa para os restantes pontos do globo.

 

À espera de uma sede

Apesar de não terem uma sede física onde possam reunir, a ARJM não baixa os braços. Distinguida pelo Instituto Português da Juventude pelo dinamismo, capacidade empreendedora, cooperação e trabalho realizado no apoio aos jovens e à comunidade, a ARJM vai agora colocar em prática dois novos projectos de informação e sensibilização. Um deles é o programa “Cuida-te”, direccionado para as escolas, para a prevenção de consumos nocivos. O outro é o “Consumidor Jovem Responsável”, que visa a educação para a poupança.  

Recentemente, a Associação viu ainda ser aprovada uma candidatura ao programa da União Europeia, Juventude em Acção, do projecto: “Norte Portugal e Galiza, dois em um: comunicação, tradição e cultura”, a implementar no final de 2009.

A dinâmica que pretendem imprimir ao concelho, quer através das actividades que promovem regularmente, como as Férias da Juventude, quer através de novas iniciativas, resulta da forma como associativamente se assumem.

“Não somos a típica associação recreativa que vive das receitas do bar da sua sede, nem somos uma associação com técnicos remunerados e com fins específicos, a funcionar como modelo empresarial”, apontou Ivo Mendes.

Embora tenham a consciência da “pouca importância” que os organismos públicos locais lhes dão, como associação, não querem existir apenas para “usufruir de apoios ou do estatuto de dirigentes associativos” e lamentam que a autarquia não lhes conceda um espaço físico para uma sede.

“Olham mais para nós como uma despesa e como um contrapoder do que como uma instituição parceira e complementar com a qual poderiam estabelecer projectos conjuntos”.

Ainda assim, querem continuar a fazer um serviço “dirigido aos jovens” e pela “terra” que amam porque, recordando a comparação do ministro da Cultura com os “loucos gauleses”, aquando da última visita ao distrito, dizem que “loucos” seriam se nada fizessem e ficassem de baixos cruzados a assistir ao desaparecimento da Lhéngua e da cultura mirandesa.

02 de Agosto de 2009

Há meio milhar de professores do Quadro de Zona Pedagógica que se encontram em risco de sair do distrito. A situação afecta 455 docentes, segundo as contas do Sindicato de Professores do Norte (SPN), a maioria dos quais com mais de 20 anos de serviço. A esperança é que o Governo Civil local possa voltar a intervir junto do Ministério da Educação no sentido de ser aberto um regime de excepção para o distrito já que é aqui que, segundo os sindicalistas, a situação será pior.

“Se não for criada uma medida de excepção, muitos dos 455 professores vão ter de, a partir do dia 1 de Janeiro, sair do distrito de Bragança. Estão por colocar professores com mais de 25 anos de carreira docente, não são professores que começaram ontem a trabalhar. A esmagadora maioria destes docentes vivem na cidade de Bragança e no concelho. Se saírem, vai ser dramático para a economia local”, considerou José Domingues, dirigente sindical.

Este já não é o primeiro alerta que é feito pelo SPN. Ainda este ano, após reunião com várias entidades distritais, nomeadamente com o Governo Civil, o ex-governador, Jorge Gomes, bem como o deputado e líder distrital socialista, Mota Andrade, garantiram que não sairia do distrito nenhum dos professores excedentários. No entanto, a ministra da Educação, Lurdes Rodrigues, numa visita ao distrito, iria dar o dito por não dito ao afirmar que não seria criado nenhum regime de excepção para o distrito.

Na altura, a ministra disse mesmo que no interior existiam professores “em excesso” e que o Governo não estava disposto a mantê-los aqui a horário zero.

“É necessário que haja alunos, é a primeira condição para que haja escolas e professores. No caso da educação de infância, do pré-escolar e do primeiro ciclo, há professores em excesso, considerando o número de alunos e as necessidades do sistema educativo. Aquilo que é proposto aos professores é que se candidatem para quadros de zona num limite daquilo que é o seu quadro. Portanto, aquilo que se pede é que os professores definam novas estratégias de organização da sua vida e do seu trabalho, em função das necessidades do sistema”, afirmou Lurdes Rodrigues.

Agora, o SPN voltou a pedir ao Governo Civil nova intervenção junto do Ministério. José Domingues acredita mesmo que a ministra poderá voltar atrás.

“Nenhum distrito está, em termos de desertificação, como o distrito de Bragança. Quanto custaria ao Governo fixar 455 famílias no distrito de Bragança? Custa mais ter cá estes professores ou custaria mais trazer para aqui famílias para repovoar o nosso interior?”, questionou.

José Domingues diz ainda que a situação só poderá ser alterada pelo Governo, se houver vontade política e, entre as sugestões passíveis de aplicar num hipotético regime de excepção aponta exemplos:  “os professores do 1º ciclo poderiam ser distribuídos de acordo com o rácio de aluno/sala de aula, por todos os agrupamentos do distrito”.

O sindicalista lembra ainda que, hoje em dia, as escolas estão envolvidas em inúmeros projectos de prevenção para a saúde ou para a sexualidade, nos quais podem ser enquadrados os docentes com horário zero.

 

Situação comparada ao encerramento de fábricas

A possível saída de docentes do distrito, nomeadamente do concelho de Bragança, levou a autarquia local a tomar uma posição e a enviar um conjunto de propostas às entidades responsáveis para inverter o processo de êxodo de docentes.

Jorge Nunes, presidente da câmara, compara mesmo a situação à falência de grandes empresas no litoral: “se quando as notícias de encerramento de uma empresa, no litoral, são de alarme e preocupação para o país, que dizer da extinção de 455 postos de trabalho qualificado numa região empobrecida e que impactos negativos irá acarretar no futuro próximo com a saída das famílias?”.

A autarquia propõe, entre outras coisas, a rentabilização dos recursos humanos para o desenvolvimento de projectos no âmbito da saúde, do ambiente, da língua materna, do Plano de Acção de Matemática, do ensino de Português como segunda língua para integrar alunos imigrantes; a criação de equipas de apoio, em regime de tutoria, a alunos com dificuldades de aprendizagem, que não se enquadrem nas Necessidades Especiais; ou o desenvolvimento de projecto pedagógicos que possam garantir maior sucesso escolar.

“São medidas que não trazem custos adicionais, uma vez que os recursos humanos existem e estão em funções efectivas nas escolas”, acrescentou o autarca.

Ao mesmo tempo, Jorge Nunes lembra que quando o Governo propõe a “Escola a Tempo Inteiro” e o combate ao insucesso escolar e à iliteracia, “deve simultaneamente falar de recursos para a concretização deste desígnio nacional”.

As propostas foram enviadas às principais entidades e instituições locais, regionais e nacionais ligadas ao sector da Educação.

 

 

últ. comentários
obrigado Cris:)
Bem vinda :))
Helder Fráguas sofreu a perda da sua companheira, ...
Para mim e para muita gente a volta às adegas para...
Estou habituado na leitura de blogs on line, adoro...
me llamo fedra soy de santa fe argentina tengo 9 ...
Carissimos,Eu não sei quem inseriu o comentário em...
todos os comentários estão disponíveis e vísiveis.
Como faço para ler os outros comentários ? Ou esse...
deixo aqui o meu comentário; por acaso pude apreci...
pesquisar neste blog
 
Janeiro 2013
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
blogs SAPO