As Federações do PS reuniram-se, ontem, com Sócrates para debater as presidencias. Mota Andrade, presidente da Federação da Bragança, não hesitou em afirmar estar "seguro" que as estruturas estarão ao lado da candidatura de Alegre, nas próximas eleições presidenciais. O presidente da federação de Bragança, o primeiro a organizar uma iniciativa de apoio a esta candidatura, não escondeu o seu apoio ao histórico socialista, mas nem todos no PS parecem estar do mesmo lado.
Vários dirigentes deixaram críticas duras ao candidato poeta e deixaram transparecer muitas dúvidas sobre um possível apoio.
Renato Sampaio, do PS/Porto, acusou Alegre de ter "condicionado o aparecimento de outras candidaturas" ao avançar no início do ano autonomamente.
Além de Bragança, Manuel Alegre tem a seu lado Lisboa, Beja, Açores e alguns dos mais destacados dirigentes do PS já lhe declararam apoio, como António Costa ou Francisco Assis.
Manuel Alegre, candidato à Presidência da República, defendeu em Bragança uma maior intervenção do Estado e a sua descentralização para combater a interioridade, um “problema estrutural” do país que afecta penosamente a região.
Obras como a auto-estrada transmontana, o IP2 e o IC5, a par da construção, por exemplo, da barragem do Baixo Sabor, são, no seu entender, “estruturantes” mas, mesmo assim, é preciso fazer mais para que “Portugal comece aqui”.
“Temos de ter aqui um Portugal moderno porque a Europa também começa aqui”, disse.
O candidato entende também que é necessário promover um “novo relacionamento com Espanha” e “apostar nas relações transfronteiriças como novo potencial de crescimento”. Sem poupar críticas ao Governo de José Sócrates, Manuel Alegre classificou o Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC) como “muito negativo”, sobretudo para interior”. Divergente, sobretudo, com a privatização de empresas públicas rentáveis, como os CTT ou a REN, o candidato considera ainda que o PEC beneficia o sector financeiro, penalizando toda a classe média/baixa e, uma vez mais, o interior do país.
“Há consolidação a mais das contas públicas e crescimento a menos. Isto é muito negativo para o interior, compromete a função estratégica do Estado e traz um custo social excessivo”, apontou.
Perante uma plateia de duas centenas de pessoas, Manuel Alegre considerou ainda a atribuição de prémios a gestores públicos como um “escândalo para a saúde da República”, “moralmente inaceitável”, sobretudo numa altura em que foi já anunciado o congelamento dos salários na Função Pública.
“O exemplo tem de vir de quem tem mais e de quem pode mais”, afirmou, acusando o Governo de exigir um esforço de contenção “desigual”.
O candidato defende que Portugal não precisa de um “código de conduta das medidas orçamentais impostas pelo Banco Central Europeu” e considera que é necessário “repensar os critérios monetaristas que estão a contaminar a Europa” sob pena de estar a por em causa “serviços essenciais aos povo português”.
“Nenhum constrangimento vindo de fora pode pôr em causa serviços públicos essenciais ao povo português como a Segurança Social, a escola pública e o Serviço Nacional de Saúde”, apontou.
No rol de críticas, outro dos visados foi Cavaco Silva, actual Presidente da República. Manuel Alegre acusou-o de “gerir silêncios em proveito próprio”, defendendo que a estabilidade para pela “prática de clarificação”.
Num jantar marcado por vários “históricos” socialistas do distrito de Bragança, como Mota Andrade, presidente da Federação do PS, ou Aires Ferreira, autarca da câmara de Moncorvo, Manuel Alegre deixou o “aviso”: “não vou mudar de convicções consoante os benefícios. Quem quiser apoiar-me terá que me apoiar como sou – republicano, democrata, socialista e um homem livre”.
As próximas eleições presidências são consideradas pelo candidato como fundamentais para “impedir o regresso da direita” e fazer de Portugal um país “mais aberto e justo”.
O candidato a Presidente da República Manuel Alegre considerou sexta-feira «um escândalo para a saúde da República» os prémios dos gestores públicos, enquanto o PEC impõe o congelamento dos salários na Função Pública
«Não me parece que haja neste PEC um suficiente esforço de partilha», disse, em Bragança, num jantar com apoiantes em que comentou o PEC apresentado pelo Governo.
Para o socialista, «o esforço de contenção que é pedido pelo PEC é desigualmente distribuído».
Manuel Alegre criticou também a prevista privatização de serviços públicos, «ainda por cima rentáveis», com a qual entende «não se está a pretender uma melhoria da sua gestão e uma resposta ao interesse público, mas apenas querer obter rapidamente uma receita extraordinária».
«Também me parece que um país como o nosso não pode prescindir de uma transportadora aérea nacional que garanta a ligação com o Brasil, Estados Unidos da América e os países lusófonos de África», disse.
O candidato a Presidente da República defende que o que Portugal precisa «não é do código de conduta das medidas orçamentais impostas pelo Banco Central Europeu, mas de uma austeridade republicana exemplar, a partir de cima».
«Desde os titulares dos órgãos de soberania aos administradores de empresas públicas», concretizou.
Manuel Alegre considerou ainda ser necessário «repensar os critérios monetaristas que estão a contaminar a Europa» e criticou a falta de controlo do dinheiro que a União Europeia incentivou os Estados-membros a introduzirem nos bancos.
«Nenhum constrangimento vindo de fora pode pôr em causa serviços públicos essenciais ao povo português como a Segurança Social, a escola pública e o Serviço Nacional de Saúde», afirmou.
Alegre frisou ainda que não renegará os seus valores para condicionar apoios à sua candidatura.
O candidato referiu-se também ao atual Presidente da República, nomeadamente à última entrevista televisiva de Cavaco Silva, comentando: «Não faz parte da minha maneira de ser dar entrevistas para não dizer nada».
«O papel de um Presidente da República não é de gerir silêncios nem de dizer apenas o que lhe convém quando lhe convém. A magistratura de influência do Presidente da República implica a utilização da pedagogia da palavra como um instrumento ao serviço do país», declarou.
«Falar mas nada dizendo, pronunciar-se mas nada propondo ou intervir mas nada acrescentando é um exercício vazio ou nulo de propósito», acrescentou.
Para Manuel Alegre, «Portugal precisa de uma inspiração mobilizadora e não de exercícios de cálculo».
«Cabe ao Presidente da República indicar o caminho e não os atalhos. A defesa da estabilidade não é um jogo de sombras, é uma prática de clarificação», afirmou.
O presidente da federação distrital de Bragança do PS, Mota Andrade, foi um dos promotores do jantar de apoio a Manuel Alegre, afirmando que a sua candidatura é a «da esperança».