A autarquia de Bragança quer promover, em parceria com a Confraria Ibérica da Castanha e com o Instituto Politécnico de Bragança (IPB), a criação de um Observatório da Castanha. O objectivo é conhecer todo o mercado associado a esta fileira: desde a produção à comercialização passando pela transformação, pela gastronomia e até pelo turismo.
A ideia não é nova, mas o “primeiro passo” foi apenas dado na terceira edição da Norcastanha, um evento que termina nesta quarta-feira, , com a realização do típico magusto de S. Martinho.
À imprensa Jorge Nunes, presidente da câmara, avançou com o ano de 2010 como data possível para a constituição formal do Observatório, uma estrutura que deverá “congregar” os vários actores à volta deste produto.
“É preciso que haja informação precisa sobre o número de hectares plantados, a evolução das plantações, as doenças existentes, as soluções para superar fragilidades, os mercados de consumo que existem, a transformação que a castanha sofre ao sair da região... É necessário observar tudo isso e transmitir essa informação”, explicou o autarca.
Criada recentemente, a Confraria Ibérica da Castanha tem tido o papel de “mediadora” entre os produtores, especialistas e comerciantes desta fileira.
Actualmente estima-se que só o concelho de Bragança produza uma média de 25 mil toneladas de castanha, um valor bastante elevado que coloca este fruto como o “mais rentável” da economia transmontana. No entanto, os agricultores continuam a deparar-se com problemas para colocar a castanha no mercado ou para conseguir preços mais “justos” para a venda do produto. A isto acrescenta-se o facto da região não conseguir transformar castanha, deixando o produto ir para mercados estrangeiros, como França, onde é transformada e vendida a preços muito elevados.
Esta é uma tendência que a Confraria Ibérica da Castanha quer alterar, promovendo um maior uso do fruto na gastronomia local.
Castanha na gastronomia
A utilização da castanha na gastronomia regional, ao longo de todo o ano, poderia ser, no entender da Confraria, uma boa forma de rentabilizar o produto e valorizar a região. Actualmente há já quem introduza o fruto na doçaria com bastante sucesso, como é o caso dos “ouriços de castanha” vendidos ao longo de todo o ano, ou no “bolo-rei de castanha” feito agora na altura do Natal.
No entanto, Gilberto Baptista, grão-mestre da Confraria, defende que é possível fazer outras associações, nomeadamente a pratos de caça ou de carne em que a castanha funciona como um bom aliado.
Ao longo de cinco dias, e associados à Norcastanha, onze restaurantes da cidade promoveram estas ementas à base de castanha e alguns começam a ter disponível este tipo de pratos ao longo de todo o ano. É o caso, por exemplo, do restaurante Académico que já no Festival Nacional de Gastronomia apresentou um menu tradicional da região, no qual se destacava o bacalhau com castanhas, entre outros pratos regionais. Também por esta altura, na cantina do IPB é possível encontrar o pudim de castanhas, um doce que só recentemente reentrou no cardápio transmontano.
A nível nacional começam também agora a aparecer restaurantes interessados em incluir a castanha na “nouvelle cuisine”. Segundo Gilberto Baptista, há já vários restaurantes de Lisboa e do Porto interessados em explorar esta fileira através da gastronomia.
A Confraria vai por isso continuar a apostar na realização de eventos associados à cultura da castanha e do castanheiro, ao longo de todo o ano.
“Interessa-nos valorizar o consumo fora da época e integrar a castanha na gastronomia como um produto nobre”, salientou.
Este ano a Norcastanha promoveu também a realização de um Fórum Internacional para debater os problemas do sector, nomeadamente no que diz respeito às doenças que afectam os castanheiros.
Ainda em 2010 a Confraria deverá editar a primeira revista dedicada somente à castanha, uma espécie de “manual de boas práticas” que será entregue aos produtores e que compilará informação científica sobre a matéria.