A falta de interesse e de cultura empresarial dos comerciantes está a colocar em causa o trabalho da Associação Comercial, Industrial e dos Serviços de Bragança (ACISB).
Este ano, a direcção admite que a animação de Natal pode ficar comprometida, já que poucos são os que respondem às solicitações feitas pela associação. Em 300 ofícios enviados a pedir ideias para a dinamização do comércio durante a época natalícia, apenas 28 responderam e, desses, apenas 11 se mostraram abertos a qualquer colaboração. Números e atitudes que têm deixado a direcção da ACISB desalentada e que se reflectem, também, na falta de participação nas acções de formação ou em outros programas dinamizados pela associação, a maioria deles sem custos para os associados.
“Há posições que eles tomam e que eu não entendo. Tudo o que corre mal, neste concelho, é culpa da ACISB, como se tivéssemos capacidade para impor regras e conseguir dinheiro. A nossa missão é defende-los, mas, para isso, é preciso que haja uma colaboração estrita e que sejam pessoas correctas, que atendam às nossas solicitações, que, muitas vezes, não são monetárias”, apontou.
Perante este “desinteresse”, António Carvalho questiona como é que a direcção se pode posicionar junto da câmara municipal.
“Nós pedimos à câmara que durante a época natalícia alargue os horários de funcionamento, que coloquem iluminação na zona da Braguinha e de Vale d’Álvaro, por exemplo, e eles questionam qual é a posição dos comerciante, qual é a ajuda que eles dão? Tenho de encolher os ombros porque de 300 ofícios recebi 28 respostas”, lamentou António Carvalho.
O presidente critica ainda que os comerciantes não participem nas acções de formação e que não publicitem as ofertas disponibilizadas pela ACISB aos seus trabalhadores, demonstrando uma clara “falta de cultura empresarial”.
“Não divulgam, nem motivam os seus funcionários a vir às formações quando todos ganham, ganha o funcionário, o empresário e, fundamentalmente, o cliente”, apontou.
Formação gratuita não cativa empresários
Apesar dos inúmeros programas de formação gratuita, continuam a ser poucos os empresários e comerciantes que acedem a participar nas acções promovidas pela ACISB. Na semana passada, no encerramento de uma dessas acções, intitulada Dinamizar, o presidente assumiu que foi com grande esforço que se conseguiram motivar 25 empresas a participar, ainda que, no final, todos se mostrassem “arrependidos por não terem colaborado mais”.
Esta acção consistia em deixar um consultor avaliar a empresa, os seus pontos fortes e fracos, sugerindo mudanças ou estratégias para um maior sucesso.
“Todos foram unânimes em concordar que houve aprendizagem, formação e que, hoje, estão com a mente mais aberta”, considerou António Carvalho.
Uma opinião partilhada por vários empresários, como Rosário Bragada, que admitiu que “uma pessoa externa avalia as coisas de uma forma mais racional”.
Proximamente a associação vai fornecer formação exclusivamente para empresários com o objectivo de dar cultura empresarial, “abrir mentalidades”, ensinar gestão e fornecer instrumentos para a gestão. “É uma formação fundamental, com muito interesse, financiada por fundos comunitários e gratuita”, apontou António Carvalho.
Com o Natal à porta, o presidente considera que é necessário “afastar o cinzento” e aceitar os apelos da ACISB, que são do interesse dos comerciantes e dos funcionários das empresas.
Rede Gestus com pouca adesão
A rede Gestus, um programa que abrange Bragança, Chaves e Viseu, e que tem como objectivo dar maior escala ao comércio para o tornar competitivo, é outro dos programas que está a ter fraca adesão por parte dos associados.
A candidatura deste programa teve logo luz verde por parte do Governo, mas o arranque está a ser demorado devido a uma certa “oposição” que os comerciantes parecem manifestar.
Uma das iniciativas da Rede Gestus visa, por exemplo, a constituição de uma Central de Compras que permita unir o comércio local por sectores.
Assim, ao invés de cada comerciante trabalhar, sozinho, com os seus fornecedores, trabalharão todos os comerciantes de um mesmo sector com um variado leque de fornecedores. Num só movimento negocial os comerciantes poderão efectuar a compra e o pagamento, conseguindo uma maior oferta de fornecedores, maior capacidade de negociação e, consequentemente, melhores preços.
Mas a rede Gestus prevê, ainda, o lançamento de um cartão de desconto, a ser usado pelos clientes nas lojas aderentes, com a possibilidade de amealhar pontos para trocar. O objectivo é dar interligação ao comércio, tornando-o apelativo e com maior dimensão. Há, também, o objectivo de criar o centro comercial a céu aberto para a zona histórica da cidade, entre outros.
O repto aos comerciantes foi lançado, a adesão é gratuita, mas foram apenas 40 os que quiseram integrar este projecto, quando as expectativas iniciais apontavam para números bem superiores.
Ainda assim, António Carvalho tem expectativas que quando a Rede Gestus estiver a funcionar, o que vai acontecer dentro em breve, mais comerciantes possam aderir.