Os doentes crónicos do Planalto Mirandês com necessidade de cuidados paliativos já têm ao seu dispor uma rede de cuidados ao domicílio. O projecto pioneiro, a nível nacional, partiu de um desafio da Fundação Calouste Gulbenkian, e envolve várias entidades dos concelhos de Miranda do Douro, Mogadouro e Vimioso.
Sob a responsabilidade da médica Jacinta Fernandes, os doentes com necessidade de cuidados paliativos vão, agora, dispor de uma equipa multidisciplinar que irá ao seu encontro na tentativa de oferecer maior qualidade de vida e um acompanhamento para o alívio da dor total, não só física, mas também psicológica.
Neste projecto colaboram a Fundação Calouste Gulbenkian, a promotora, as câmaras municipais, Santas Casas da Misericórdia e Administração Regional de Saúde. Numa primeira fase foi enviado um ofício aos presidentes das juntas para que referissem os casos que conhecessem de pessoas com necessidade de cuidados paliativos. Embora nem toda a informação prestada até ao momento se viesse a confirmar como correcta, Jacinta Fernandes aponta que este trabalho de diagnóstico já permitiu observar 49 pessoas, sendo que 17 estão já a ser acompanhadas regularmente.
Segundo explicou, este serviço pretende ir ao encontro de doentes incapacitados que, muitas vezes, “estão na cama, à espera que a morte chegue, sem mais ninguém a não ser a família que, muitas vezes, não sabe nem tem meios para os tratar”.
Com uma equipa em cada concelho, o objectivo é, assim, fazer o acompanhamento destes doentes, não só no controlo dos sintomas, mas também no alívio da dor física e psicológica, para que tenham “uma morte digna”, conforme apontou.
“Temos doentes que vão viver muitos anos, mas com muitas dificuldades e que necessitam de um acompanhamento pois tratam-se de doentes com doenças crónicas, progressivas e incapacitantes”.
A Fundação Calouste Gulbenkian foi a principal promotora da implementação deste projecto no distrito, visando, naquilo que é já uma tradição, ir de encontro às necessidades de uma vasta populaçao, na sua maioria idosa, que dificilmente encontra resposta para os seus problemas.
Jorge Soares, da instituição promotora, explicou que Fundação Calouste Gulbenkian já, em tempos, financiou grande parte do plano de vacinação dos portugueses. “A fase agora é do desenvolvimento da investigação, por um lado, e por outro, a humanização”, apontou.
“As pessoas, quando chegam ao ocaso da vida, têm de encontrar as melhores condições para morrer com dignidade e a Fundação pode dar ajuda porque nem sempre há tanta sensibilidade do Estado para essas acções”, considerou Jorge Soares.
O responsável apontou ainda que a implementação deste projecto no Planalto Mirandês só foi possível porque houve interlocutores e parceiros à altura para responder ao desafio, nomeadamente a médica Jacinta Fernandes, a gestora do projecto Unidade Domiciliária de Cuidados Paliativos do Planalto Mirandês.
A nova Unidade Domiciliária de Cuidados Paliativos conta já com a cedência de um espaço pela câmara de Miranda do Douro, na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, bem como de um espaço na antiga escola do Variz, em Mogadouro, cedido pela autarquia local. Neste último espaço, vai estar um administrativo responsável pela organização e gestão de equipamentos para empréstimo aos utentes, como camas, cadeiras, cadeiras de rodas, entre outros.
As Santas Casas da Misericórdia, bem com os Centros de Saúde locais também vão prestar apoio logístico, nomeadamente através dos seus recursos humanos.
Até ao final do ano, a Unidade Domiciliária de Cuidados Paliativos conta chegar a um universo de 300 doentes do Planalto Mirandês.
O projecto pode vir a ser replicado noutros pontos do país.