Os 15 Centros de Saúde que integram o Agrupamento do Nordeste Transmontano (ACES Nordeste) vão ter um serviço de apoio às mulheres grávidas vítimas de violência doméstica. A novidade foi avançada no I Seminário dedicado ao tema, que se realizou, na terça-feira, em Bragança, e é um dos objectivos previstos no projecto Violência Doméstica na Gravidez, iniciado em 2009 na região transmontana.
Actualmente, os profissionais de saúde já estão a aplicar às grávidas uma ferramenta de rastreio que permite avaliar se estas são, ou não, vítimas de violência doméstica. Logo na primeira consulta, os profissionais disponibilizam às grávidas um contacto mais directo e apresentam o projecto, deixando “uma porta aberta” para futuros contactos, sejam eles relacionados com a violência doméstica ou não. Depois, ao longo das consultas, vai sendo aplicado um questionário que permite conhecer melhor a mulher grávida, os seus antecedentes, o grau de envolvência familiar, entre outros aspectos que, complementados com os vários exames permitem aferir se há sinais de qualquer tipo de violência.
Em caso de violência, a grávida é encaminhada e atendida por toda uma equipa multidisciplinar que avalia os riscos e ajuda a vítima a tomar decisões e a denunciar o crime.
Entretanto, está já a ser construída uma base de dados que, em 2011, data do término do projecto, permitirá conhecer os verdadeiros números desta problemática e que vai estar disponível, também, para ser consultada para estudos académicos.
Esta é uma problemática que começa agora a ser estudada de modo mais aprofundado e que preocupa os profissionais de saúde, pois, para além do crime público, há duas vidas colocadas em risco – a da mãe e a do bebé.
O projecto iniciou-se em 2009, pela mão de Berta Nunes, então responsável da Sub-Região de Saúde, (agora ACES Nordeste). A médica, e hoje presidente da câmara de Alfândega da Fé, contou que a iniciativa surgiu depois de terem sido detectados casos de violência doméstica contra grávidas, alguns deles com desfechos dramáticos que resultaram em mortes fetais.
“O que verificamos é que havia situações de violência que começavam na gravidez ou que se agravavam com a gravidez, quando, inicialmente, tínhamos a ideia do senso comum que a gravidez era o momento em que a mulher era mais protegida pelo companheiro”, contou.
Berta Nunes diz mesmo que podem ter havido mais casos de mortes fetais que resultaram de situações de violência mas que não foram diagnosticadas como tal, porque “não estávamos atentos a essa realidade”.
Hoje em dia, os centros de saúde do ACES Nordeste são, nesta matéria, referência a nível nacional. Para além de profissionais formados para lidar com esta problemática, todos eles contemplam gabinetes de atendimento e encaminhamento de vítimas, havendo um trabalho efectivo em prol da diminuição da violência doméstica.
A perspectiva é que este projecto possa, no futuro, vir a ser aplicado a todo o país, reforçando o papel dos centros de saúde na comunidade.