“Memórias II” é a nova exposição, da autoria de Ana Fernandes, que está patente no Centro Cultural Adriano Moreira, em Bragança, até dia 28 de Novembro.
São objectos que, maioritariamente, todos conseguimos identificar, pese embora muitos tenham perdido o uso: vassouras de piaçaba, antigas resistências de ferro, interruptores de porcelana ou de galalite, formas para cozer o folar, raladores, brinquedos antigos de celulóide. Ana Fernandes pegou em tudo isto e deu uma nova forma a estes objectos, transformando-os em arte, num resultado de inesperadas associações de conceitos e formas que invocam memórias de infância.
Esta é a primeira parte de uma mostra que enche a sala Luís de Camões e que vai beber muito às memórias transmontanas, patentes nas grandiosas e antigas arcas de madeira que servem de montra para alguns dos objectos.
“As arcas de madeira não são da minha autoria, infelizmente”, notou, salientando, no entanto, como muitos dos objectos transformados fizeram parte da infância de grande parte dos portugueses.
“No fundo são memórias de todos, quase todos usaram alguns dos objectos que aqui estão. Tenho aqui peças que foram dos meus avós e dos meus pais, outras que me foram gentilmente oferecidas”, contou.
Natural de Vila do Conde, a escultora considera-se uma “filha da terra”, já que é a Trás-os-Montes que vem, recorrentemente, por razões pessoais e afectivas.
“O meu marido é transmontano e há mais de 40 anos que vimos passar férias à região. fiquei como filha da terra e já sou mais transmontana do que da beira-mar. Gosto imenso dos montes, dos rios, da gastronomia, da franqueza das pessoas...tudo me atrai nesta terra”, confessou.
Mas se na primeira sala do Centro Cultural há uma invocação de memórias que remete para o passado, para a infância dos príncipes e princesas de latão, passando à segunda sala, (sala Miguel de Cervantes), temos, talvez, uma perspectiva de futuro. Recorrendo a diferentes tipos de materiais, nalguns casos, noutros reutilizando e reinventando novas formas e utilizações, Ana Fernandes construiu um modernas peças de design, objectos de parede, acessórios e jóias de uma beleza extraordinária.
É uma “continuação” das memórias sob uma vestimenta actual, futurista em alguns casos, em que vemos nascer máscaras de metal com vassouras de piaçaba, por exemplo, ou raladores que assumem formas humanizadas.
A autora, que ao longo da sua carreira trabalhou com crianças carenciadas, quis sublinhar a necessidade de utilizar, reutilizar, reciclar, reinventar, criar do nada, dando utilidade ao aparentemente inútil nem que seja, apenas, para prazer humano.
A mostra está patente até dia 28 de Novembro no Centro Cultural, em Bragança. Ana Fernandes é licenciada em Escultura pela Escola Superior de Belas Artes e foi bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian e da secretaria de Estado da Cultura para o Estudo das Tecnologias dos Metais Nobres. Do seu vasto currículo, destaque para o primeiro prémio de escultura da II Bienal de Arte da Associação Industrial Portuense, em 1996.