A antiga casa do Abade Baçal está em risco de ser demolida. O proprietário do imóvel vai requer à câmara de Bragança autorização para demolir a casa como resposta a uma intimação da autarquia para a requalificação das paredes do espaço.
A notícia foi avançada ao Diário de Bragança pelo representante legal do proprietário, o advogado Guedes de Almeida, que contou que o seu cliente, neste momento, não tem condições para fazer qualquer obra na casa.
“A empresa pretendia recuperar o imóvel para um hotel rural. Atendendo à crise e às dificuldades de acesso ao crédito, a entidade proprietária sentiu-se impossibilitada de avançar com a obra”.
Aquando da aquisição do imóvel, o proprietário privado pretendia transformar o espaço num hotel rural, respeitando os traços típicos da casa do ilustre transmontano, um dos primeiros antropólogos a escrever sobre as tradições históricas do Nordeste Transmontano. O negócio foi aprovado, desde início, pela autarquia municipal, pese embora a contestação que gerou junto da oposição, nomeadamente do grupo do PCP na Assembleia Municipal. O PCP conseguiu mesmo aprovar, em Assembleia Municipal, o estatuto de imóvel de interesse mas, no entender do deputado José Brinquete, “tal nunca foi assumido pela câmara”.
O advogado diz que, “em altura própria e por escrito”, ofereceu-se à autarquia a possibilidade de adquirir a casa pelo preço de custo, até tendo em conta a importância cultural de recuperar aquele espaço.
“Não houve abertura para negociação ou diálogo porque há falta de sensibilidade por parte da câmara”, acusou Guedes de Almeida.
A casa terá custado cem mil euros e o projecto de recuperação terá ficado em 25 mil euros. Actualmente decisão do proprietário.
“A proprietária não tem condições para requalificar, há a ameaça de ruir e, por isso, vai ser requerida a demolição”, justificou.
Confrontado com a notícia, Jorge Nunes considerou que em causa está uma “atitude de chantagem” para com a câmara pois, no seu entender, “a autarquia não tem que suportar eventuais negócios desajustados que privados promovam”.
Já por sua vez, o advogado acusa a câmara de estar a ter, em relação a este caso, uma “posição política”, ressalvando que o seu cliente “tem consciência da importância da figura do Abade Baçal” embora não tenha “condições” para levar adiante uma requalificação.
PCP acusa câmara de “insensibilidade cultural”
Pouco surpreendido ficou o deputado José Brinquete que continua a acusar a câmara de ter em relação ao imóvel uma atitude “inaceitável e inexplicável”.
“Insistimos na questão central que é o facto do Abade Baçal ser uma figura de âmbito nacional e internacional que temos o privilegio de ter no nosso distrito e no nosso concelho. Temos de esperar que um dia os responsáveis autárquicos tenham outras capacidades e competências para poderem preservar não só a memoria mas também os valores culturais que temos”.
O deputado municipal relembra que o PCP sempre defendeu a responsabilidade da autarquia no imóvel, devido à sua importância cultural.
“O que está em causa não é se os privados fazem melhor ou pior, na área da cultura as responsabilidades cabem às entidades públicas”, defendeu.
José Brinquete considera ainda que o arrastar da situação pode levar a uma situação que considera “mais escandalosa e trágica” – o risco iminente da casa vir a ruir.