Trás-os-Montes é a região do país que mais crescimento registou no número de famílias de acolhimento de idosos. Entre 2002 e 2007, Bragança passou de duas para 48. Em Vila Real 280 vivem neste regime. Há poucos meses que Joaquim Pires, de 83 anos, deixou a sua casa sem condições de habitabilidade na aldeia de Alfaião, a escassos quilómetros de Bragança, para ir viver com Elisabete Salvador, na cidade de Bragança, a sua família de acolhimento. O idoso, que sofre de patologias crónicas, não esconde a satisfação por viver agora num local confortável, com aquecimento e refeições à hora. \"Não podia arranjar melhor\", confidencia. O filho não podia cuidar dele em casa, pois não dispõe sequer de sanitários. As agruras do rigoroso Inverno transmontano foram este ano mais amenas. Agora compartilha a família e os dias com outro Joaquim, também Pires, 80 anos, natural de Paradela (Miranda do Douro). Além dos nomes repartem as mesmas rotinas em casa de gente que não conheciam, mas que cuidam deles e fazem as vezes da família que não têm ou que deles não pode tratar. A televisão é a principal distracção dos dois idosos. Cuidar deles é o emprego de Elisabete Salvador, 32 anos, licenciada em Português-Francês. A jovem só foge na idade ao padrão dos responsáveis pelas famílias de acolhimento do concelho. O perfil revela que são todas mulheres, a idade média é de 43,9 anos, e viviam situações de desemprego. Não está arrependida desta opção, apesar de ter mais habilitações académicas que a grande maioria, revelou um estudo realizado por Manuela Veloso, assistente social, no âmbito de uma tese de mestrado em Geriatria e Gerontologia na Universidade de Aveiro. Elisabete Salvador considerou a hipótese de cuidar de idosos uma forma de criar o próprio emprego. Desde 2004 que se dedica à tarefa. Não foi fácil a adaptação a pessoas entranhas. \"Há necessidade de habituação de ambas as partes\", confessa, mas reconhece que o grupo acaba por se tornar uma família. O estudo de Manuela Veloso concluiu que o acolhimento familiar no concelho tem um impacto positivo, manifestando-se uma alternativa à institucionalização, pois prestam um serviço mais personalizado e de maior proximidade com o idoso, criando laços de maior afectividade. Glória Lopes in JN, 2009-03-30