O Centro Cultural de Bragança acolhe, até 23 de Janeiro, a exposição do escultor António Nobre. Intitulada “Máçcaras – a transfiguração”, numa alusão às Festas de Inverno que se realizam no distrito, António Nobre apresenta um conjunto de peças de dupla representação que, desmultiplicados nos seus vários elementos, nos apresentam a substância dos rituais solstícios. Natural de Sendim, Miranda do Douro, António Nobre não esquece as raízes e o lugar onde nasceu e transporta essas vivências para a obra de arte, embora recriando-a num sentido moderno, como o próprio explicou. Para tal, o escultor passou dois anos a investigar o tema, procurando “tentar encontrar o sentido da realidade que nos envolve”. É nas Festas de Inverno e no Carnaval que, no distrito de Bragança, surgem as festas dos caretos, dos mascarados, uma tradição ancestral em que se dá ao mascarado a primazia. É o mascarado que, nestas celebrações, assume o papel de destaque, denunciando e escarnecendo os males da sua própria comunidade, numa celebração que está associada ao iniciar de um novo ciclo agrário e a rituais de passagem à vida adulta. Por detrás da máscara esconde-se toda a simbologia associada à vida/morte, caos/ordem, trabalho/festa, natureza/magia e é essa que está presente nos objectos escultóricos de António Nobre. “As Festas do ciclo de Inverno estão todas ligadas ao culto agrícola. Peguei nessa realidade e tentei recriá-la no sentido de encontrar na obra de arte alguma dessa essência, embora ligada à modernidade”. Assim, partindo da máscara, no sentido da compreensão da fenomenologia da mesma, porque em exposição não há nenhuma máscara, nenhum objecto de tirar e pôr no rosto, o escultor apresenta elementos que figuram o sentido recreativo da máscara na sua dupla representação. Daí que não seja de estranhar ver máscaras em objectos que não são máscaras, mas que podem ser lidos como tal, como recriações ligadas ao mundo pagão e ao mundo cristão, a contextos de festa e de agradecimento, à renovação e expugnação dos males. “A festa dos caretos, dos carochos, dos mascarados e de toda a nomenclatura que aqui possa existir, transporta-nos para essa realidade de rejuvenescimento e expugnação dos males que durante o ano se cometeram, são rituais dedicados à mãe natura, para que um novo ciclo se inicie”. A forma, a cor, os materiais usados, a inserção de objectos agrícolas são elementos que, olhados globalmente, nos transportam para essa realidade, transfigurada criativamente pelo escultor. “O objecto rural não acontece por acaso”, apontou, “tem um sentido” que é evocado ancestralmente e contextualizado no tempo presente. A exposição foi inaugurada no passado Sábado e estará presente, no Centro Cultural de Bragança, até dia 23 de Janeiro.