A obra de Júlio Pomar permite ler o século XX, apontou Laura Castro, investigadora de Belas Artes. Na sua opinião, “é possível fazer um curso de História da Arte a partir de Júlio Pomar, pois a sua obra explora todas as possibilidades da pintura, desde a representação, ilusão, composição, decomposição, quase abstracção...”. A dificuldade em passar a mensagem talvez esteja relacionada com a natureza da obra artística, como aponta o próprio Júlio Pomar. «Quando as pessoas falam entre si, há uma linguagem comum – a palavra. O pintor é gago para as palavras, está mais aberto à visão, lida com as imagens».
Ao longo de toda a sua vida, Júlio Pomar incutiu à sua arte uma dimensão de comprometimento social e político muito forte documentada nas primeiras obras, em que é patente a passagem da ditadura à democracia. Mas da sua obra, de mais de seis décadas, é sobretudo surpreendente a multiplicidade de linguagens, temas, técnicas, materiais e suportes usados, mostrando a constante mudança e adaptação de um homem/artista em permanente interrogação sobre o mundo que o rodeia e com “um apetite de animal feroz”, como o próprio assume.
Os diversos campos de experiência que explorou e continua a explorar são valorizados na antologia apresentada no Centro de Arte Graça Morais, organizada por Jorge Costa, director do espaço e comissário da exposição. É uma pluralidade que mostra o artista como experimentador, ao invés de produtor, e que surpreendeu o próprio Júlio Pomar que veio, assim, a Bragança redescobrir algumas das suas obras.
“Limitei-me a uma posição de observador”, assumiu. “Por norma, prefiro e procuro manter-me nessa posição, porque me parece que possa ser mais produtiva do que estar a seguir uma ideia que eu tenho sobre o meu trabalho e a impô-la”. Uma modéstia que lhe permitiu ter uma “visão nova” sobre obras que já não assume como suas, pois nelas já não tem poder de intervenção.
Carla A. Gonçalves