Há várias escolas e agrupamentos do distrito de Bragança que estão a implementar no terreno projectos de intervenção contra a violência e o bullying (violência exercida de forma continuada por um mesmo grupo/pessoa sobre uma outra). As medidas, para já, passam sobretudo pela prevenção dos pais sobre estes fenómenos e sobre a forma como devem reagir perante estas situações.
A notícia foi avançada por Luís Martins, responsável do Centro de Área Educativa (CAE), à margem do debate sobre bullying, promovido pela Juventude Socialista de Bragança.
Algumas escolas já estabeleceram regras e colocaram-nas no regulamento interno, um “primeiro passo” de outros processos a “afinar”, como apontou o responsável.
Estas medidas que começam, agora, a ser aplicadas nos vários agrupamentos do distrito surgiram após a realização de um estudo sobre a violência escolar, dinamizado pelo Agrupamento de Centros de Saúde do Nordeste (ACES) em colaboração com as equipas locais de saúde escolar.
Segundo esse estudo, uma em cada três crianças já foi vítima de algum tipo agressão, num total de 36,4 por cento . Em geral, os rapazes são mais vítimas e agressores do que as raparigas. Os recreios são os locais onde acontecem mais agressões, seguindo-se o caminho para a escola, no caso do distrito de Bragança.
As conclusões, apresentadas por Manuela Santos, em representação do ACES, dizem respeito a todos os agrupamentos do distrito de Bragança, com excepção de dois deles. Os 3500 inquéritos foram aplicados nos anos de 2008 e 2009 às crianças do 1º e 2º ciclo.
Perante a dimensão do problema, agora avaliado, várias escolas estão já a tomar medidas que, depois, serão novamente alvo um estudo para verificar se surtiram algum efeito.
Famílias e Escolas têm de estar “atentas”
Ainda há poucos casos de violência e de bullying a ser encaminhados para a pedopsiquiatria do Centro Hospitalar. Elisa Vieira, a única profissional da área a cobrir todo o distrito, considera que as escolas deviam orientar estas crianças para o serviço de psicologia escolar que, perante cada caso, entenderia se deveria, ou não, fazer o encaminhamento para a Pedopsiquiatria.
“Chegam-me alguns casos de bullying, tanto de vítimas como de agressores, mas muito poucos”, afirmou.
A especialista pede “mais atenção” aos pais e à própria escola para este tipo de situações que, muitas vezes, ainda são desvalorizadas, conforme notou: “quando os miúdos dizem aos pais que são vítimas de violência, muitas vezes, estes desvalorizam e incentivam as crianças a responder na mesma moeda ou a desvalorizarem. Também os professores, muitas vezes, desvalorizam as situações e dizem que são coisas de crianças”.
Apesar dos “poucos” casos em mãos, (poucos, face aos números apresentados pelo estudo), Elisa Vieira admita já ter acompanhado situações de bullying agressivo em que as vítimas chegaram orientadas pelo serviço de urgência hospitalar. Há ainda os casos de bullying psicológico e até de ciberbullying – violência com recurso à internet. Neste último, a vítima foi filmada a tomar banho na escola, após uma aula de educação física, e o vídeo foi colocado a circular na internet.
A pedopsiquiatra acompanha ainda o caso de alguns agressores que são encaminhados quer pela escola, quer pelo médico de família. Elisa Vieira aponta que, tanto no caso de vítimas como de agressores, são crianças que precisam de ajuda e que sem tratamento e sem orientação dificilmente tratarão o problema.
“Castigar, retirar as crianças agressoras da escola ou mudá-las para outro estabelecimento de ensino, não é solução. Se não houver tratamento nem orientação, a questão continua”.
É que, segundo apontou, geralmente os agressores são crianças que vivem sem grande supervisão familiar e que podem ser vítimas de violência física ou psicológica. Em geral, têm atributos físicos invejáveis no meio em que se relacionam e, por isso, conseguem dominar o grupo.
Já as vítimas, são crianças mais frágeis em termos emocionais e que se submetem. Por norma apresentam fracasso escolar, isolamento, depressão e, no casos extremos, podem chegar à auto-agressão e ao suicídio.
Elisa Vieira assume que violência “sempre houve” mas, a diferença para os dias de hoje, no seu entender, está em factores como a ausência da família, o facilitismo e a entrega das crianças, por assim dizer, a “amas electrónicas”.
“A família está cada vez menos presente e é cada vez maior o tempo que as crianças passam entregues aos seus jogos, filmes, televisões... Não é factor único para chegar à agressão mas são factores a ter em conta”.
Sinais de alerta
Os pais e familiares devem estar atentos também para alguns sinais que as crianças possam dar. No caso das vítimas de agressão, segundo Isabel Parente, assistente social, é frequente que “inventem” desculpas para não ir à escola e que desenvolvam medo e fobia escolar.
Mas também os agressores demonstram indícios, nomeadamente irritação e atitudes hostis para com os pais, familiares e amigos. Por norma não têm aproveitamento escolar e não são alunos atentos.
O diálogo é uma das vias que os pais ou familiares devem utilizar, tanto com vítimas como com agressores e Isabel Parente explica porquê: “tanto no caso das vítimas como dos agressores, são crianças que se sentem abandonadas. A vítima fecha-se em si e não consegue contar o que se passa. O agressor sente-se livre porque ninguém o controla ou se preocupa com ele, sendo a única via a agressão”.