Não se vislumbra vontade política para corrigir séculos de abandono da maior parte do território nacional.
Enquanto foi preciso fixar populações nas zonas fronteiriças para aguentarem os ataques dos que pretendiam anexar Portugal ao Reino de Castela e Leão, os governantes investiram no povoamento das zonas fronteiriças. Desde então nada se fez para suster a sangria do interior.
Para encher as naus que viriam a dar "novos mundos ao Mundo", foram-se buscar as populações do interior. Começou, então, o despovoamento e abandono de uma vasta faixa do território nacional.
O Estado Novo obrigou muitos dos nossos conterrâneos, sobretudo da ‘província’, a atravessar as fronteiras, para procurarem melhores condições para si e para os seus, nos países de emigração. Desde então, a população residente no distrito de Bragança caiu dos cerca de 230 mil habitantes para os menos de 150 mil, actualmente.
Com o advento da democracia, acreditou-se que essa tendência seria invertida e que finalmente se veria um sério investimento na região e na melhoria das condições dos transmontanos.
Com o regresso dos que estavam nas ex-colónias, a região conheceu o único aumento demográfico desde os censos de 1961.
A democracia, com a consolidação do poder autárquico, trouxe algumas melhorias às nossas cidades, vilas e aldeias. Construíram-se estradas, instalou-se a luz eléctrica em muitas das aldeias, que não a tinham, passou-se a ter água canalizada e esgotos em quase todas.
Mas, foi sol de pouca dura.
Poucos anos depois da revolução, logo se percebeu que o investimento e as preocupações dos políticos eram sobretudo com a capital e com o litoral do País, onde se foi concentrando a população.
Os anos noventa decretaram o encerramento de muitos serviços em Bragança. Na calada da noite vieram-se buscar as automotoras e encerrou-se a estação ferroviária. A década de noventa terminou com a promessa solene do Engenheiro Guterres de colocar Bragança no mapa. Nas sucessivas campanhas eleitorais muito se falou da discriminação positiva. Mas, apesar de todo o contributo que o interior deu ao País, ainda não se vislumbra a vontade política de emendar os erros do passado e corrigir séculos de abandono da maior parte do território nacional.
Vamos continuar a assistir impávida e serenamente a esta triste ‘involução’, ou está na hora de hastearmos uma qualquer bandeira?