Lídia da Conceição nunca tinha mexido num computador. “Não sei como é, nem como não é”, dizia à entrada do Instituto Politécnico enquanto aguardava pelo início da formação. Acompanhada por um casal com mais de 80 anos, os três ansiavam pelo primeiro contacto com as novas tecnologias e incitavam as crianças presentes a mostrar o que já sabiam.
“Eles já sabem tudo, eu é que nunca mexi! Vamos ver o que consigo aprender”, atirava Manuel António.
A iniciativa para o uso das novas tecnologias da informação e comunicação juntou idosos e crianças, avós e netos, em três dias de formação. Os mais novos queriam aprender mais e ensinar os avós e os mais velhos as “coisas” do mundo digital.
“Vim com o meu avô mas eu já sei fazer algumas coisas”, contava Tiago, do alto dos seus oito anos.
Dos “avós” presentes, alguns também reclamavam saber já “mexer nestas coisas”, mas diziam querer “aprender mais”.
“Vim com o meu neto mas também sei algumas coisas. Quero aprender mais porque até morrer estamos sempre a aprender”, dizia Telmo Palas, um dos formandos mais novos, com 53 anos.
Orlando Lobo, com 62 anos, também já trabalhava com a Internet há alguns anos mas queria “actualizar-se” e passar algum tempo com o neto.
A promoção do conhecimento e o reforço dos laços familiares foram, precisamente, os objectivos definidos pelo projecto, denominado TINA – Tecnologias da Informação para Netos e Avós. Raquel Patrício, docente do IPB e uma das responsáveis pelo projecto, explicou que se pretendeu assim “estabelecer uma maior relação entre avós e netos e fazer com que a Internet e as novas tecnologias possam ser uma ferramenta de comunicação entre ambos”.
A ideia de lançar esta formação já tinha surgido há alguns anos, aquando da criação do portal Catraios, um sitio da Internet direccionado para miúdos e graúdos, nomeadamente a crianças do jardim de infância e primeiro ciclo, aos pais e professores. A concretização surgiu agora, em 2010, abrangendo duas Bragança e Mogadouro.
Os dois formadores, Raquel Patrício e Vítor Gonçalves, contaram com sete crianças e sete avós em cada uma das localidades. A matéria ensinada versou, essencialmente, o básico para ligar e desligar o computador, criar pastas, criar e editar documentos, navegar na Internet, fazer pesquisas em motores de buscas, criar e trabalhar com contas de correio electrónico, entre outros programas essenciais.
O balanço da primeira formação, que termina hoje, é francamente positivo, pese embora Raquel Patrício tivesse notado algumas “dificuldades iniciais”, nomeadamente junto dos mais velhos.
“Alguns idosos mostraram algumas dificuldades iniciais em mexer no rato e no teclado, mas isso é ultrapassado com as restantes sessões”.
No seu entender, tanto netos como avós estiveram de parabéns: “todos se mostraram bastante receptivos e interessados em aprender e os netos em ajudar os avós, pois são eles que mostram mais dificuldades com as tecnologias”.
A segunda edição do projecto TINA regressa a 27, 28 e 29 de Abril, novamente em Bragança e Mogadouro. As inscrições já estão abertas e são gratuitas.
Posteriormente serão ainda realizadas outras acções sobre ferramentas sociais, fóruns de discussão, entre outros, para uma maior dinamização deste projecto junto dos avós e netos.