A centenária estação de Mirandela da Linha do Tua votada ao abandono há mais de duas décadas poderá encher-se novamente de vida transformando-se num centro de artes, cultura, lazer e de memória do caminho de ferro.
A Câmara local tem pronto o projeto da autoria do arquiteto Belém Lima, e o modelo de financiamento dos onze milhões de euros necessários para dar novo uso à estação de comboio com uma dinâmica cultural que passa por um centro de artes, escola de música e espaço museológico.
"Como temos uma escola de música e tradição nas artes em Mirandela, porque não transformar aquele edifício numa escola das artes as condições que o Ministério da Educação exige", disse hoje à Lusa o autarca local, José Silvano.
De acordo com Silvano, já foi constituída uma parceria público privada entre a autarquia e várias empresas para a execução do projeto que aguarda apenas luz verde da proprietária do edifício, a Refer.
A estação que deu nome à alheira de Mirandela esteve para ser arrasada e no seu lugar crescer um loteamento de prédios com cinco andares que não vingou, mas ditou o início de um processo de abandono e degradação.
O edifício é dos mais imponentes e emblemáticos do património ferroviário da linha do Tua, no Nordeste Transmontano, e embora não seja classificado tem um valor simbólico.
A ele se deve o facto de a alheira de Mirandela ter sobressaído entre os enchidos congéneres que há séculos se produzem em toda a região e que mesmo chegando de outros pontos eram despachadas naquela estação e chegavam ao litoral com o carimbo "Mirandela".
"É uma tristeza saber que um edifício do Estado, neste caso da Refer, esteja nesse estado de abandono", refere o autarca de Mirandela, realçando que "o abandono nesta estação é mais evidente porque ainda passa ali o comboio, tem uma dimensão diferente e está numa cidade".
O ar fantasmagórico dos vidros partidos e madeiras consumidas pelo tempo destoa da arrumação da "cidade jardim".
A degradação, segundo o autarca social-democrata, começou antes de a autarquia ter decidido criar, há 20 anos, o Metropolitano Ligeiro de Superfície de Mirandela que acabou por salvar o que restou da linha do Tua e passou a fazer o transporte de passageiros ao serviço da CP.
A antiga estação foi substituída por uma outra, mesmo ali ao lado, das novas que o metro batizou com os nomes dos pais da Europa.
Foi a União Europeia que garantiu o financiamento para o novo transporte.
Recuperar o velho edifício era incomportável para o município que naquela ocasião aprovou um acordo em que a CP vendia a estação e terrenos adjacentes para um empreiteiro local construir um loteamento de prédios com r/c e cinco andares.
Em troca, o município recebia as três carruagens do metro de Mirandela, uma espécie de permuta avaliada em um milhão de euros.
Quando chegou à presidência da autarquia, há 14 anos, José Silvano diz ter reprovado o projeto do antecessor José Gama e desde então a estação está ao abandono e o Metro com um passivo crescente de ano para ano devido às amortizações da dívida das automotoras.
O autarca acredita que o novo projeto, que contempla a ampliação do atual edifício, irá resolver todos estes problemas e que a REFER aceitará a proposta pelo valor de 750 mil euros, ficando as partes quites.
Questionada pela Lusa sobre a nova proposta da autarquia, a REFER respondeu por escrito que "aguarda enquadramento por parte da direção de Património" da empresa.
Fonte: Lusa