Manuel Alegre, candidato à Presidência da República, defendeu em Bragança uma maior intervenção do Estado e a sua descentralização para combater a interioridade, um “problema estrutural” do país que afecta penosamente a região.
Obras como a auto-estrada transmontana, o IP2 e o IC5, a par da construção, por exemplo, da barragem do Baixo Sabor, são, no seu entender, “estruturantes” mas, mesmo assim, é preciso fazer mais para que “Portugal comece aqui”.
“Temos de ter aqui um Portugal moderno porque a Europa também começa aqui”, disse.
O candidato entende também que é necessário promover um “novo relacionamento com Espanha” e “apostar nas relações transfronteiriças como novo potencial de crescimento”. Sem poupar críticas ao Governo de José Sócrates, Manuel Alegre classificou o Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC) como “muito negativo”, sobretudo para interior”. Divergente, sobretudo, com a privatização de empresas públicas rentáveis, como os CTT ou a REN, o candidato considera ainda que o PEC beneficia o sector financeiro, penalizando toda a classe média/baixa e, uma vez mais, o interior do país.
“Há consolidação a mais das contas públicas e crescimento a menos. Isto é muito negativo para o interior, compromete a função estratégica do Estado e traz um custo social excessivo”, apontou.
Perante uma plateia de duas centenas de pessoas, Manuel Alegre considerou ainda a atribuição de prémios a gestores públicos como um “escândalo para a saúde da República”, “moralmente inaceitável”, sobretudo numa altura em que foi já anunciado o congelamento dos salários na Função Pública.
“O exemplo tem de vir de quem tem mais e de quem pode mais”, afirmou, acusando o Governo de exigir um esforço de contenção “desigual”.
O candidato defende que Portugal não precisa de um “código de conduta das medidas orçamentais impostas pelo Banco Central Europeu” e considera que é necessário “repensar os critérios monetaristas que estão a contaminar a Europa” sob pena de estar a por em causa “serviços essenciais aos povo português”.
“Nenhum constrangimento vindo de fora pode pôr em causa serviços públicos essenciais ao povo português como a Segurança Social, a escola pública e o Serviço Nacional de Saúde”, apontou.
No rol de críticas, outro dos visados foi Cavaco Silva, actual Presidente da República. Manuel Alegre acusou-o de “gerir silêncios em proveito próprio”, defendendo que a estabilidade para pela “prática de clarificação”.
Num jantar marcado por vários “históricos” socialistas do distrito de Bragança, como Mota Andrade, presidente da Federação do PS, ou Aires Ferreira, autarca da câmara de Moncorvo, Manuel Alegre deixou o “aviso”: “não vou mudar de convicções consoante os benefícios. Quem quiser apoiar-me terá que me apoiar como sou – republicano, democrata, socialista e um homem livre”.
As próximas eleições presidências são consideradas pelo candidato como fundamentais para “impedir o regresso da direita” e fazer de Portugal um país “mais aberto e justo”.