Uma escola, no interior. Os meninos jogam à bola na rua debaixo do olhar dos mais velhos. Alguns escondem-se e calam dentro deles uma dor de alma, uma torrente de sentimentos frustrados. Têm medo, choram.
Indiferentes à sua dor, toda uma escola viva de professores, companheiros, auxiliares...
Numa escola, no interior, uns meninos eram perseguidos por colegas mais velhos e de vez em quando levavam “uns bofetões”. “Coisa normal entre crianças”, disseram alguns pais e professores. Uma “coisa normal” para quem?
Sendo a escola obrigatória, presumo que muitos de nós tenhamos passado por lá. Poucos serão os que não viveram situações semelhantes, com desfechos diferentes. Quem nunca andou “à bulha”? Terão sido poucos, mas isso é normal e aceitável? Até que ponto?
Em 2008 o pequeno Leandro, uma criança como eu também fui, como muitos foram, foi mandado para o hospital. Alguns colegas mais velhos bateram-lhe. Dizem que lhe deram pontapés na cabeça. Esteve dois dias internado. É normal? É aceitável? O que fez a escola? O aluno foi agredido fora do recinto. Mas foi agredido por colegas seus, colegas mais velhos. É aceitável?
Em 2010 Leandro não aguentou mais e o país soube. Um menino saltou para o rio para fugir aos maus tratos de alguns colegas mais velhos. Vergonha. Que vergonha.
Foi preciso cair nas águas do rio para fazer ouvir a sua dor.
Quantos mais Leandros vão ter de cair para que a escola comece a encarar a agressividade e a violência entre os alunos como um sério problema e não como brigas de crianças?
Para quando a colocação de profissionais competentes (psicólogos) para acompanhar estes casos?
Que pessoas estamos a formar? Que pessoas queremos formar?
Espero que a consciência lhes doa até mais não e que não haja uma noite em que descansem em paz.
Aos pais e familiares, condolências sentidas...