Uma feira “anti-crise” e um “exemplo para todo o país”– foi desta forma que o ministro da Agricultura, António Serrano, classificou a Feira do Fumeiro de Vinhais. Ao longo de três dias foram vendidos toneladas de quilos de enchidos a milhares de pessoas que vieram de todo o país, inclusive em excursões organizadas para o efeito.
O sucesso foi de tal ordem que levou mesmo o ministro da Agricultura a dizer que gostaria que também no Alentejo, região de onde é natural, houvesse um evento com a mesma capacidade de mobilização económica.
“A Feira do Fumeiro de Vinhais é um exemplo para todo o país, é daqueles certames que têm de estar na agenda nacional e marcar também os roteiros internacionais”, disse.
Num ano em que o certame assinalou o seu 30º aniversário, Américo Pereira, presidente da autarquia, confessou que não podia estar mais “feliz”, sobretudo pelo sucesso alcançado numa altura marcada pela crise económica.
“É uma feira que gera todo o desenvolvimento económico regional. A hotelaria esgotou não apenas em Vinhais, que não era difícil, mas também nos concelhos vizinhos. A par das oportunidades de negócio, a Feira do Fumeiro é já um cartaz de promoção turística”, afirmou.
A internacionalização poderá ser o próximo passo. Esse é, pelo menos, o desejo do ministro da agricultura. António Serrano considera que o evento tem todas as características que lhe permitem vir a integrar os roteiros internacionais e, por isso, vai ser preparado todo um programa de apoio à divulgação no exterior.
“Até ao final deste semestre queremos preparar todo um programa que ajude à internacionalização dos produtores, empresas e eventos”, confirmou o responsável da tutela.
Fumeiro com garantia de qualidade
A garantia de qualidade do fumeiro exposto é um dos factores que o autarca vinhaense aponta como fulcral para o crescimento do certame. Tudo começou com o “acarinhamento” dos porcos de raça bisara, matéria-prima do fumeiro vendido no certame.
O controlo de qualidade está garantido através do rastreamento de todos os produtos vendidos, conforme explicou Márcia Canado, médica veterinária da Associação Nacional de Produtores de Suínos de Raça Bisara (ANCSUB), um dos parceiros da organização da Feira. A fiscalização começa, desde logo, na produção dos suínos e estende-se até à secagem dos enchidos. Os animais são identificados pela ANCSUB mesmo antes de irem para o matadouro. Posteriormente os técnicos visitam os produtores para verificarem as condições do local onde é feito o fumeiro e o local de secagem.
Ao abrigo da nova lei, todos os expositores já estavam inseridos na actividade produtiva local. Cada um deles dispõe, por isso, de um número de controlo veterinário e de uma marca que lhes permite vender os enchidos em todo o país e até para o estrangeiro, não só a particulares mas também a empresas.
Ao comprador a garantia é dada através da rotulagem obrigatória, onde constam o nome do produto, os ingredientes, o nome do produtor, o número de controlo veterinário, o contacto do produtor e a data em que este fez o enchido.
Os produtores possuem ainda um dossier de auto-controlo devidamente organizado, onde está registado todo e qualquer comprovativo de entrada de matéria-prima.
“Tudo o que é incorporado no fumeiro tem de constar do dossier, desde o alho, louro, colorau, entre outros. Caso haja algum problema com o enchido, está tudo registado e é fácil rastrear a origem”, explicou Márcia Canado.
Ao comprador a garantia é dada através da rotulagem obrigatória, onde constam o nome do produto, os ingredientes, o nome do produtor, o número de controlo veterinário, o contacto do produtor e a data em que este fez o enchido.
“Quem compre aqui fumeiro, caso tenha problemas, tem na marca do produto uma espécie de bilhete de identidade”, confirmou a médica veterinária.
Fonte de rentabilidade para os produtores
Apesar das novas regras e das exigências, os produtores consideram que, cada vez mais, vale a pena apostar no fumeiro como fonte de rendimento extra.
É o caso de Maria Aurora Pires, de Ousilhão, mais conhecida por Lola. Há cinco anos a participar na Feira do Fumeiro, a produtora considera que este foi o melhor ano de sempre. No último dia do certame, a meio da manhã, restavam-lhe apenas algumas alheiras para vender.
“Trouxe fumeiro de três porcos e vendi quase tudo o que trazia”, contou.
Os preços afixados pela organização, 40 euros o quilo de salpicão e 30 euros o quilo de chouriça, também não afastaram a clientela: “para quem compra é um bocadinho caro, mas para quem vende é um bom preço porque os porcos dão muito trabalho”.
Já Artur Martins, de Mós de Selas, considera até que os preços são baixos quando comparado com o que se praticava há alguns anos atrás.
“Se as pessoas compararem, há anos atrás, quando era ainda em escudos, chegaram a vender o quilo do salpicão a 12 contos, o que equivale hoje a 60 euros”.
A participar no evento há cerca de dez anos, Artur Martins e a esposa não se arrependem da aposta feita. Ano após ano a clientela cresce e não são apenas os visitantes do litoral que o procuram, mas também da Torre de D. Chama, de Bragança, de Macedo de Cavaleiros e até de Vinhais
“Quando as pessoas ficam satisfeitas, voltam a comprar”, justifica Artur Martins.
E se hoje o fumeiro é já uma fonte de riqueza e rendimento económico para o concelho de Vinhais, Américo Pereira aponta ainda que a exigência requerida tem feito com que a actividade se comece a disseminar a todo o território nacional.
Na Feira do Fumeiro de Vinhais participaram 80 produtores, dez tasquinhas, 50 expositores no espaço gourmet e 70 artesãos. Entre produtores individuais e cozinhas regionais foram abatidos cerca de 400 animais.