Tradições ancestrais que assinalam solstício de Inverno e rituais de passagem repetem-se um pouco por todo o distrito, com singularidades de terra para terra
A tradição da Festa dos Rapazes cumpre-se ano após ano, com as tropelias dos caretos (rapazes solteiros mascarados), que espalham pelas ruas o espírito festivo. É nesta festa que os rapazes se fazem homens, um ritual pagão que foi assumido pela Igreja Católica com a consagração de Santo Estêvão, o patrono da festa. Um pouco por todo o distrito, são várias as localidades que continuam a manter este ritual. Em Bragança, por exemplo, esta é uma Festa que se assinala sempre com muita expressão nas localidades de Aveleda, Varge e Babe, nos dias 25 e 26 de Dezembro.
Mas os preparativos começam antes, com a nomeação dos mordomos e a recolha de lenha e bens. No dia 24 são feitos os ritos preparatórios e, no dia de Natal, 25 de Dezembro, as rondas iniciam-se logo pela madrugada.
Este é um ritual de passagem exclusivo do sexo masculino. Os rapazes vestem-se com fatos de serapilheira às cores, máscaras de latão ou madeira e chocalhos à cintura, realizando os tradicionais desfiles dos "caretos", "chocalheiros" ou "carochos".
Outra das características destas festas é a crítica social e a expurgação, o "ridendo castigat nores". Os mascarados apresentam perante o povo os actos de reprovação e ficando assim a comunidade preparada para dar início a um novo ciclo agrário.
Ao mesmo tempo, os mascarados criam o caos e impõem as suas regras, só e apenas até ao momento para-litúrgico.
As visitas às casas e as saudações são outros dos aspectos destas festas que se voltam a celebrar no Carnaval, com outros rituais, mas que simbolizam o início de um outro ciclo e a entrada na Primavera.
Abade Baçal, no tomo XI (p.40) descreve muitas das Festas dos Rapazes que acontecem no Nordeste Transmontano e que, durante muito tempo, se realizaram à sombra da Igreja, embora anunciadas em honra de um santo, normalmente aquele que melhor se enquadrasse com a data escolhida para a celebração da festa.
Hoje em dia, estão autorizados a participar nestas Festas, rapazes cada vez mais jovens, não estando estabelecida nenhuma idade em especifico para poder participar. Esse é um factor que se fica a dever não só a um início cada vez mais precoce da puberdade, mas sobretudo à desertificação humana do Interior e, sobretudo, das aldeias onde estas tradições ainda resistem.
Culto ao Fogo
Outros cultos que permanecem estão relacionados com o fogo. Em várias povoações rurais fazem-se enormes fogueiras, chamadas "Fogueira do Galo", para celebrar o Natal ou o Ano Novo.
Também é tradição preparar um ramo de árvore composto por doces, frutas, fumeiro e cigarros, bens recolhidos porta-a-porta pela povoação. Esse ramo é depois arrematado e comido pela população como forma de celebrar a chegada do novo ano. Por norma, o arremate é feito entre grupos de solteiros e casados, cabendo, depois, ao grupo vencedor, organizar a festa e determinar se o outro grupo, de solteiros ou casados, pode participar ou não.
Mas mais polémica é a tradição de Vale Salgueiro, em Mirandela, onde a passagem da idade infantil para a idade adulta é assinalada com a distribuição de cigarros a crianças. Nesse dia, as crianças podem fumar e, pese embora as campanhas anti-tabaco, esta é uma tradição que continua a realizar-se ano após ano no Dia de Reis.
Tradições gastronómicas
No que diz respeito à alimentação, é tradição, no dia de Natal, comer o polvo e o bacalhau cozido, com batatas, grelos e rabas cozidas, tudo bem regado com azeite da região.
À mesa não faltam as tradicionais filhoses de abóbora, as rabanadas, a aletria doce, e o bolo-rei.
Nestes últimos anos, as pastelarias locais começaram a inovar a receita do bolo-rei sendo já tradição o bolo-rei de castanha ou de chila.
No dia de Ano Novo, a tradição manda comer o cabrito assado no forno, mas em muitas casas é, também, neste dia que se prova o fumeiro.