O destaque de que o seu romance foi alvo, ao ser referenciado, com grande destaque, num livro didáctico, direccionado para alunos do terceiro ciclo, surpreendeu o próprio autor, que teve conhecimento deste facto numa palestra organizada pela Escola Secundária António Granjo, em Chaves, na semana passada.
“Fui convidado a ir a Chaves e fui surpreendido com essa notícia pela Drª Margarida Terra, que me mostrou um placard da biblioteca com o fac-simile da página do livro”, contou Manuel Cardoso, confessando sentir-se “muito emocionado e lisonjeado”.
“Sempre gostei de ser aluno e estar presente, deste modo, no mundo escolar é uma enorme alegria e honra para mim!”
O autor considera que os trechos escolhidos para figurarem no livro escolar descrevem com grande “credibilidade e autenticidade” o que se terá passado nesses anos da 1ª República, reflectindo o dia-a-dia das pessoas que viviam na província.
“Tive um enorme cuidado ao escreve este livro, para que o efeito de propaganda, pró ou contra a República, pró ou contra a Monarquia, não viesse falsear o retrato desse momento vivido pelos nossos avós ou bisavós. Foram momentos muito difíceis para todos eles, monárquicos ou republicanos”, apontou.
“Um Tiro na Bruma” foi o primeiro romance lançado por Manuel Cardoso, em 2007, e aborda, essencialmente, os momentos políticos e sociais que marcaram o início do século XX em Portugal, como seja a implantação da República, em 1910, os golpes de Estado e contra-golpes, a participação portuguesa na 1ª Guerra Mundial, as doenças que dizimaram famílias inteiras. É neste cenário conturbado que se movimenta a figura central da história – Amadeu, médico em Macedo de Cavaleiros, (avô de Manuel Cardoso), e em torno dele gravitam outras personagens da sociedade transmontana. Foi o interesse em conhecer melhor esse período conturbado da História portuguesa, bem como a figura do seu avô que o levaram a iniciar a investigação, como confessou ao Mensageiro.
“Tinha um enorme interesse pelo período da primeira República, um períodos sobre o qual se falava pouco, e pela figura do meu avô, de quem diziam cobras e lagartos na nossa família”, confessou.
Com o decorrer da investigação e sem saber que tudo iria resultar num romance, Manuel Cardoso deparou-se com diferentes “verdades” entre o que descobria e aquilo que lhe tinham dito. O resultado é um conjunto de “imagens quase palpáveis de acontecimentos vividos intensamente em Trás-os-Montes e em Portugal, há uma centena de anos atrás”.
Médico veterinário de profissão, a sua estreia na literatura não podia ser melhor. Além de ter já publicado um outro romance, “O Segredo da Fonte Queimada”, Manuel Cardoso vê agora o seu primeiro livro consagrado no contexto educativo.
“O meu objectivo foi proporcionar, a quem ler, um mergulho na época, uma viagem no tempo que lhe permita viver, sob o ponto de vista emotivo e participativo, os momentos e acontecimentos protagonizados pelos personagens”, apontou.
“Um Tiro na Bruma” é um livro que o autor aconselha a “todos os que se interessem em saber como se viveu em Trás-os-Montes um dos períodos mais difíceis da nossa história recente. A todos os que, como eu, achem que a História de Portugal não é protagonizada apenas em Lisboa ou por figuras de primeiro plano, mas que a mesma é vivida por todos nós, no nosso dia-a-dia, na nossa história pessoal, no nosso amor à vida”.
Manuel Cardoso considera ainda que foi “o amor à vida, no meio das dificuldades, que permitiu ao nossos bisavós e avós ultrapassar todo esse tempo” e, por isso, deixa o conselho: “descobrir o amor à vida, no meio de uma desorientada e difícil, é um bom motivo para, nos dias de hoje, aconselhar a ler um livro como este.