O Centro Hospitalar do Nordeste ainda não encerrou as contas mas está previsto um aumento do prejuízo de 4,5 por cento em relação ao ano passado. A dívida, que em 2008 era de nove milhões de euros, deve atingir os 12,5 milhões, relativos a 2009. Um valor que António Marçoa, administrador do Centro Hospitalar, justifica com o aumento de custos associado ao consumo de material clínico, mas não só.
É que segundo o administrador, o Centro Hospitalar do Nordeste está inserido num grupo de hospitais cujas especificidades não são comparáveis, como é o caso do Centro Hospitalar de Santa Maria da Feira.
“O hospital de Santa Maria da Feira serve uma população em maior número mas não tão envelhecida quanto a população que nós servimos. Por outro lado, o hospital de Santa Maria da Feira não tem uma dispersão entre as unidades”, exemplificou.
No entender de António Marçoa, o actual modelo de financiamento é muito “complexo” e não diferencia favoravelmente as regiões do interior. É que a população servida é fortemente envelhecida, com grande necessidade de cuidados de saúde e um rendimento per capita que é apenas 60 por cento da média nacional. Ao mesmo tempo, o facto do Centro Hospitalar do Nordeste receber substancialmente menos que outros centros, como o de Vila Real, por exemplo, pela prestação dos mesmos cuidados de saúde, faz disparar os custos.
Assim, um mesmo episódio de urgência recebido no Centro Hospitalar do Nordeste ou no Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, é pago pelo Estado de forma diferenciada, sendo que o valor pago ao Centro Hospitalar do Nordeste é inferior.
Ou seja, no entender do administrador, o que faltaria seria “aplicar os mesmos custos de estrutura a uma região particular que é o interior, todo o interior porque as especificidades da população fazem com que tenhamos custos superiores”.
Marçoa considera que se o Centro Hospitalar do Nordeste recebesse um financiamento idêntico ao do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes pelos mesmos serviços prestados, as contas estariam equilibradas.
“Se o Centro Hospitalar de Trás-os-Montes recebesse pelos mesmos valores que nós, receberiam menos 25 milhões de euros por ano”, adiantou, esclarecendo que, nessa situação, o Centro sedeado em Vila Real, não teria saldo positivo de dois milhões mas antes “mais de 20 milhões de saldo negativo”.
Ainda assim, Marçoa justifica o aumento da dívida também com o aumento do consumo de material clínico associado às cirurgias das cataratas, um sector onde o Centro Hospitalar reduziu as listas de espera. Também ao nível da cardiologia, otorrino, e o investimento nas cirurgias de ambulatório fizeram aumentar os custos, sendo por isso que o responsável afirma que “em saúde, é difícil falar em resultados”.
Já com o pessoal o aumento foi de 2,2 por cento, mas não estão programados despedimentos até porque não há excesso de funcionários.
“O grande peso do pessoal ainda está na área clínica, na parte de enfermagem, auxiliares de acção médica e a componente médica. A parte administrativa e os técnicos dos meios complementares de diagnóstico são uma componente minoritária”, apontou.
Não obstante os resultados negativos, Marçoa aponta que o indicador de autonomia financeira é saudável e frisa os benefícios dos serviços prestados com os investimentos que têm vindo a ser realizados. Apesar de discordar do modelo de financiamento, o administrador considera positivo o modelo “hospital – empresa” porque veio trazer responsabilizações à gestão hospitalar.
Ainda assim, Marçoa frisa que a saúde não se pode gerir “como outra empresa qualquer” porque, tendencialmente, haverá custos acrescidos que têm de ter como contra-partida o aumento do nível dos cuidados prestados.