Dia-a-dia de um distrito rural, doze concelhos e meia dúzia de pequenas cidades encravadas nas montanhas mais a norte de Portugal
04 de Março de 2010

 Uma escola, no interior. Os meninos jogam à bola na rua debaixo do olhar dos mais velhos. Alguns escondem-se e calam dentro deles uma dor de alma, uma torrente de sentimentos frustrados. Têm medo, choram.

 Indiferentes à sua dor, toda uma escola viva de professores, companheiros, auxiliares...

Numa escola, no interior, uns meninos eram perseguidos por colegas mais velhos e de vez em quando levavam “uns bofetões”. “Coisa normal entre crianças”, disseram alguns pais e professores. Uma “coisa normal” para quem?

Sendo a escola obrigatória, presumo que muitos de nós tenhamos passado por lá. Poucos serão os que não viveram situações semelhantes, com desfechos diferentes. Quem nunca andou “à bulha”? Terão sido poucos, mas isso é normal e aceitável? Até que ponto?

Em 2008 o pequeno Leandro, uma criança como eu também fui, como muitos foram, foi mandado para o hospital. Alguns colegas mais velhos bateram-lhe. Dizem que lhe deram pontapés na cabeça. Esteve dois dias internado. É normal? É aceitável? O que fez a escola? O aluno foi agredido fora do recinto. Mas foi agredido por colegas seus, colegas mais velhos. É aceitável?

Em 2010 Leandro não aguentou mais e o país soube. Um menino saltou para o rio para fugir aos maus tratos de alguns colegas mais velhos. Vergonha. Que vergonha.

Foi preciso cair nas águas do rio para fazer ouvir a sua dor.

Quantos mais Leandros vão ter de cair para que a escola comece a encarar a agressividade e a violência entre os alunos como um sério problema e não como brigas de crianças?

Para quando a colocação de profissionais competentes (psicólogos) para acompanhar estes casos?

Que pessoas estamos a formar? Que pessoas queremos formar?

 

Espero que a consciência lhes doa até mais não e que não haja uma noite em que descansem em paz.

 

Aos pais e familiares, condolências sentidas...


As escolas não actuam devidamente perante situações de bullying e, muitas vezes, ignoram estes casos. O alerta é feito pelos sindicatos de professores que falam na falta de condições para combater o fenómeno, mas admitem que há uma tendência para minimizar a sua gravidade.

Isto quando 42% dos alunos nas escolas lidam com o bullying, como vítimas ou como agressores, revela um estudo da investigadora Sónia Seixas, e se sabe que o Ministério Público investigou no ano passado dez queixas por mês de casos de violência nas escolas.

"A tolerância tem de ser zero. Muitas vezes não há castigos, apenas repreensões para os agressores e o bullying é um fenómeno que está a alastrar. As escolas têm de tomar medidas severas, mas têm de actuar de imediato e não deixar passar", defendeu ao DN Carlos Chagas, secretário-geral do Sindicato Nacional e Democrático dos Professores (Sindep).

Também Mário Nogueira, da Fenprof, é da opinião que uma "punição severa" é importante se o caso assim o exigir, mas diz que tem de haver sempre uma actuação imediata. "Há situações pouco relevantes e nas escolas tenta- -se ver se as coisas passam e, quando dão conta, já aconteceu algo pior", afirma o sindicalista.

Carlos Chagas reafirma que há regras, mas que não são cumpridas: "Quando os agressores são maiores de 17 anos estão sujeitos à lei penal, mas se forem menores há a lei tutelar da educação. Os directores não se podem alhear dos problemas."

Há outra situação que contribui para a falta de eficácia no combate ao fenómeno. Os docentes e auxiliares não têm formação para lidar com estes casos. "A informação é inexistente. Tem de se investir na formação de professores e de pessoal não docente, pois são estes últimos que fazem, muitas vezes, a primeira observação do bullying", diz João Dias da Silva, secretário-geral da Federação Nacional dos Sindicatos da Educação (FNE). E é neste ponto que se pede a intervenção da tutela. "Deve apostar na prevenção, mas este é um fenómeno que vai ser difícil de controlar a curto prazo", completa Mário Nogueira.

O dirigente diz que é preciso simplificar alguns processos: "Primeiro, o aluno tem de confiar na escola e ter a certeza de que algo vai ser feito para o proteger. Depois, os professores não aplicam castigos mais severos porque a burocracia é demasiada." Dias da Silva conclui: "A tomada de medidas contra o bullying tem sido adiada. Nas escolas espera-se que aconteça e resolve apenas a questão do momento. É como atirar o problema para debaixo do tapete."

A falta de preparação das escolas é também apontada pela psicóloga Tânia Paias, que coordena o Portal Bullying, onde se presta ajuda online. "As escolas não estão bem apetrechadas para lidar com estes casos. Estão alerta, mas não têm as ferramentas", aponta. Já a psicóloga Susana Carvalhosa defende que as escolas e o Ministério da Educação devem apostar na prevenção.

 

Fonte: DN


 Daniel Sampaio, psiquiatra e autor de livros sobre o suicídio na adolescência, diz que, a confirmar-se, o caso de Leandro tem contornos "raríssimos". O suicídio atinge maior frequência a partir dos 15 anos, sendo muito invulgar abaixo dessa idade. "Creio que seria importante e interessante realizar-se uma autópsia psicológica", afirma.

Este método de investigação procura reconstituir o estado psicológico e motivações da vítima no período que antecedeu o suicídio, contactando familiares, colegas e outras pessoas próximas. "Mas nada na lei obriga à realização de uma autópsia psicológica", sublinha o psiquiatra, acrescentando não ser habitual o Ministério Público promover este estudo.

Diversos estudos internacionais confirmam que a percentagem de suicídios é mais elevada entre vítimas de bullying (conceito que pressupõe maus--tratos repetidos), mas Daniel Sampaio acentua nem sempre ser evidente a relação de causa efeito. Um suicídio é quase sempre resultado de múltiplos factores. De sinais que nem sempre são lidos a tempo.

 

Fonte: I


 Leandro Filipe, o rapaz de 12 anos que se suicidou no rio Tua, em Mirandela, já tinha estado internado no hospital, há um ano, depois de ter sido pontapeado na cabeça por colegas de escola. Um entre vários episódios de violência de que terá sido vítima.

Foram infrutíferas as buscas, ontem, para encontrar o corpo da criança de 12 anos que desapareceu nas águas do rio Tua. Mais de uma centena de elementos dos Bombeiros, GNR e PSP, estiveram envolvidos na operação, que se estendeu por mais de 20 quilómetros, entre a ponte açude e a zona da Brunheda.

Quando as buscas forem retomadas, esta manhã, a coordenação da Protecção Civil de Bragança conta já ter o apoio de um helicóptero que possa sobrevoar o leito do rio até à foz.

Enquanto prosseguiam as buscas, confirmavam-se as informações sobre os episódios de violência que antecederam a tragédia, surgindo relatos de outros episódios de violência na escola.

Um primo de Leandro, que assistiu a tudo, confirma que o rapaz voltou a ser agredido na escola e que "saiu a correr" das instalações, anunciando que "ia atirar-se ao rio". Uma prima reforça a tese de que Leandro era vítima de violência na escola. "Ele já tinha sido agredido, há pouco maisd de uma ano, e ficou internado no hospital durante algum tempo", assegura Marisa Nunes.

O JN confirmou, junto de fonte hospitalar, que Leandro deu entrada na urgência do hospital da cidade, em Dezembro de 2008, após ter sido agredido com pontapés na cabeça por três alunos da escola. Ficou internado durante dois dias.

 

Processo de averiguações

Episódios que nenhuma instituição confirma. O Ministério da Educação informou que foi aberto um processo de averiguações para se perceber o que poderá ter ocorrido no recinto da escola. Mas acrescenta que, durante o ano passado, a escola registou apenas duas ocorrências: uma no primeiro período, outra no segundo, e em ambos os casos por injúrias a um funcionário.

A Direcção Regional de Educação do Norte, lamenta "o que aconteceu" e informa que tem "uma equipa no terreno a acompanhar a família e as suas necessidades mais imediatas".

Fonte da DREN acrescenta que se vai "aguardar pelas conclusões do processo de averiguações entretanto aberto pela escola. Seria prematuro comentar a situação sem essas conclusões".

Nem o Conselho Executivo da E.B. 2,3 da Luciano Cordeiro, nem a Comissão de Proteçção de Crianças e Jovens têm registo de casos de bullying na escola.

O presidente da Associação de Pais corrobora, afirmando que nunca recebeu "qualquer queixa dos pais ou de outros elementos da escola" sobre a hipótese deLeandro ser vítima de abusos. José António Ferreira apenas adnmite que há "situações pontuais" de violência. O mesmo responsável acrescenta que "a DREN produziu um estudo relativamente à existência de bullying em escolas da região e esta foi das mais bem classificadas".

 

Fonte: JN


 Ontem, quarta-feira, Christian não foi à escola. No dia anterior, almoçou à pressa na cantina, saiu aflito para o recreio quando viu, mais uma vez, o corpo franzino de Leandro, primo e amigo de 12 anos, ser espancado por dois colegas mais velhos.

Depois, perseguiu o rapaz que, cansado da tortura de quase todos os dias, ameaçou lançar-se da ponte, ali a dois passos. Perseguiu-o, impediu-o. Por fim, imitou-lhe os passos, degrau a degrau, até à margem do rio Tua. O primeiro estava decidido a morrer: despiu-se, atirou-se. O segundo estava decidido a salvá-lo: despiu-se, atirou-se.

Leandro morreu - é a primeira vítima mortal de bullying em Portugal; Christian agarrou-se a uma pedra para sobreviver. Antes, arriscou a vida a dobrar: digestão em curso em água gelada. Eram 13.40 horas. Ontem não foi à escola. Os pesadelos atrasaram-lhe o sono. Acordou cansado, alheado, emudecido. Leandro não é caso único. Ele também já foi agredido.

Christian não é o super-homem; não é sequer rapaz encorpado; é um menino assustado, tem 11 anos, não terá 40 quilos, o rosto salpicado de sardas e tristeza. Os olhos dos pais pregados nele, os dele cravados no chão da sala. Não estava sozinho na luta. "Estava eu, o Márcio (irmão gémeo de Leandro), o Ricardo...", este e aquele, os nomes dos amigos como um ditado, ele encolhido, no colo um cão minúsculo a quem insistentemente afaga o pêlo. "Não conseguimos salvá-lo, já estávamos tão cansados". O lamento sabe a resignação e à inquietação de quem veio de outra escola, em Andorra, Espanha, onde "à mais pequena coisa, os professores chamavam os pais", recordam, "preocupados", Júlio e Júlia Panda, pais de Christian, filhos da terra, Mirandela, no cume de Trás-os-Montes, retornados há pouco mais de um ano, trazidos com a crise e o desemprego. Vivem agora na aldeia de Cedainhos, a 15 quilómetros da cidade, lugar estacionado no tempo, onde vivia também Leandro e onde todas as casas, com laços mais ou menos próximos, são casas da mesma família.

Escola sem luto nem explicação

Um palmo acima, na mesma rua, vive a avó, Zélia Morais. Tem a cozinha cheia netos, mais de dez, netos de todas as idades, os gritos inocentes dos mais novos a misturarem-se na dor dos outros. Sabe tudo ao mesmo fado. É a imagem da desolação, ela prostrada no sofá, o coração com febre. "O meu menino era tão humilde. Todos os dias vinha saber de mim. Todos os dias", palavras repetidas embrulhadas em falta de ar. "E agora?" Agora, responde o filho Augusto, homem de meia idade que a coluna prendeu a uma cadeira de rodas, "agora, nem que tenha de vender tudo, vou até ao fim do mundo para saber quem levou o meu sobrinho a matar-se". A ameaça parece dura, dura um segundo, desfaz-se em pranto. "O meu menino sentava-se aqui comigo, conversava como adulto, era a minha companhia". Os pais de Leandro também vivem ali; não estão. "Estão em casa amiga, passaram a noite no hospital".

Ontem Christian não foi à escola. Mas na escola dele - E.B. 2,3 Luciano Cordeiro, onde partilhava o 6º ano com Leandro -, o dia foi normal. Nem portas fechadas nem luto nem explicação. O porteiro do turno da tarde entrou às 15 horas, bem disposto. "Sou jornalista, queria uma entrevista", ironizou. Tiro no pé. O JN estava lá. Perdeu o humor, convidou-nos a sair "já". A docente que saía do recinto também foi avisada, inverteu a marcha, já não saiu. Havia motivos para baterem tantas vezes no Leandro? Responde Christian: "Todos batem em todos".

 

Fonte: JN

publicado por Lacra às 10:20
últ. comentários
obrigado Cris:)
Bem vinda :))
Helder Fráguas sofreu a perda da sua companheira, ...
Para mim e para muita gente a volta às adegas para...
Estou habituado na leitura de blogs on line, adoro...
me llamo fedra soy de santa fe argentina tengo 9 ...
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