Dia-a-dia de um distrito rural, doze concelhos e meia dúzia de pequenas cidades encravadas nas montanhas mais a norte de Portugal
17 de Dezembro de 2009

 José Rentes de Carvalho, português de Trás-os-Montes a viver na Holanda desde os anos 50, esqueceu os canais, as túlipas, as pontes e os moinhos de vento, e arriscou esmiuçar o carácter dos holandeses. "Com os Holandeses" é o livro improvável com um resultado ainda mais improvável: uma sátira agridoce sobre um povo demasiado arrumado, bruto, obediente e desapaixonado, que é um best-seller naquele país, desde que foi publicado em 1972. Na Holanda já vai na 13ª edição, a Portugal só chegou este ano. Durante a entrevista, em Lisboa, o português que já foi citado pelo primeiro-ministro holandês, responde com risos, piadas e anedotas. E usa o comportamento dos holandeses para satirizar o dos portugueses. "Se os holandeses soubessem quanto tempo perdemos ao almoço ficariam chocadíssimos."


"Com os Holandeses" foi citado pelo primeiro-ministro holandês Jan Peter Balkenende num discurso ao comissário europeu Durão Barroso. Conseguiu convencer o primeiro-ministro a concordar consigo? 

Quando é preciso uma referência simpática contra os holandeses pega-se no livro e está lá tudo. Entre os muitos defeitos dos holandeses, eles têm uma qualidade de fazer inveja: aceitam as críticas e têm capacidade para se rir de si próprios. 

É isso que explica que seja best-seller na Holanda, apesar de ser um livro crítico dos holandeses?

Os holandeses têm uma atitude diferente em relação à crítica. Quando são criticados, não vão insultar o crítico, mas antes ler e pensar: porque é que este sujeito diz isto de nós? Não o vêem com maldade, antes como um contributo para tornar a imagem do cidadão ou do país mais nítida ou descobrirem outro ponto de vista que não conhecem. É uma marca de civilização. 

Já esperava isso antes de escrever o livro?

Não. O livro foi escrito no seguimento de uma conversa de café, com um editor holandês. Nesse dia estava extremamente maldisposto, dizia que os holandeses eram racistas, chatos, desapaixonados. Ele sugeriu: "Por que não escreves sobre isso?" Estava na Holanda há 14 anos e respondi-lhe que não, que isso era impensável. Despedimo-nos e dias depois tinha um envelope da editora com um cheque e uma carta a dizer: "Este é o adiantamento dos direitos de autor do livro que vais escrever."

Os holandeses costumam falar consigo sobre o livro?

Tenho duas caixas cheias de correspondência de leitores. Até hoje, só tive uma reacção negativa. E nem foi de um holandês, foi de uma grega, que escreveu num jornal: "Se não gosta de viver neste país, vá-se embora."

Escreveu que os holandeses são "indivíduos cujo temperamento não se coaduna às fantasias, às perdas de tempo, aos descuidos, menos ainda à indolência, fanáticos do planeamento, da previsão e do arrumo." Afinal, como são os holandeses? 

Grandes, loiros, reservados, correctos, um bocadinho forretas [risos], muito organizados, demasiado obedientes, extremamente sensíveis ao controle social. 

Há alguma lição que deveríamos aprender com eles?

Se os holandeses soubessem quanto tempo perdemos ao almoço ficariam chocadíssimos. [risos] O almoço lá são duas sandes de queijo e uma chávena de café. Também, pudera, a gastronomia deles é péssima. Por outro lado, lá sinto dificuldade em exprimir a minha capacidade de preguiça. Aqui preguiço com uma grande variedade de argumentos: a ligação à internet é fraca, hoje está muito calor ou muito frio. Lá não posso usar essas desculpas, sinto-me obrigado a mostrar trabalho.

E o sentido de organização deles, faz-nos falta? 

Essa necessidade de organização é ditada pela grande quantidade de pessoas num espaço restrito. Tem um preço: o contacto é muito frio. Enquanto nós não temos organização nenhuma, mas damos todos abraços. Sou amigo dos meus vizinhos, já os conheço há 23 anos e eles até têm as chaves da minha casa. Mas se saio e a vizinha está a limpar os vidros, ela não olha para mim nem diz bom dia. Em parte é frieza e reserva, outra parte é para não incomodar. É uma atitude ambígua.

Qual o maior choque que sentiu quando pisou a Holanda? 

A frieza das pessoas. Por outro lado, eu vinha de um país católico e refreado. Quando cheguei a Amesterdão nos anos 50, a liberdade entre homens e mulheres já era tão grande que foi uma festa. Para quem ia daqui, onde apertar a mão era pecado...

Sentiu-se discriminado quando chegou? Diz que eles são racistas e xenófobos.

No início não. Como era diplomata e tinha um carro com chofer, os holandeses olhavam-me com um certo respeito. Quando virei pobre, senti a diferença: passei a ser um estrangeiro. Quando comecei a aparecer muito nos jornais, a atitude mudou outra vez. E agora faço parte do mobiliário.

 

Entrevista do "GRANDE" Rentes de Carvalho ao Jornal I


 Domingos António, um dos melhores pianistas da nova geração, vai estar em Bragança no dia 18 de Dezembro, com um programa de concerto para interpretações de Liszt, Prokofiev, Scriabin, e Mozart.

Nascido em Pittsburgh, na Pensilvânia (EUA) em 1977, descendente de pai português e mãe italiana, Domingos António iniciou aos 7 anos os seus estudos de piano, frequentando, em simultâneo, um programa para jovens sobredotados, incorporado na Escola Martin Luther King.

Mais tarde, em 1991,viajou para Moscovo ingressando na Escola Especializada de Música. Em 1996, foi admitido no Conservatório Tchaikovsky, concluindo o curso de piano, cinco anos depois, com a mais alta classificação.

Depois de várias actuações internacionais, grandemente elogiadas pela crítica especializada, Domingos António vem a Bragança apresentar um espectáculo de hora e meia de virtuosismo puro.

publicado por Lacra às 08:00
últ. comentários
obrigado Cris:)
Bem vinda :))
Helder Fráguas sofreu a perda da sua companheira, ...
Para mim e para muita gente a volta às adegas para...
Estou habituado na leitura de blogs on line, adoro...
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