Nasceram há pouco mais de ano e meio e já foram distinguidos pelo Instituto Português da Juventude (IPJ) pelo dinamismo que imprimem às actividades que desenvolvem junto dos jovens mirandeses. Fartos da monotonia e passividade que consideram resultar da “ausência de políticas estruturais para a juventude”, criaram a Associação Recreativa da Juventude Mirandesa (ARJM). O objectivo é a defesa dos interesses dos jovens e população em geral, promovendo actividades recreativas, desportivas e culturais, afirmando a língua e a cultura mirandesa e promovendo Miranda do Douro e o sentimento de ser mirandês no exterior.
O orgulho que têm em ser mirandeses está bem patente na forma como insistem em manter viva a língua, apelando às raízes com frases como as que estamparam em t-shirts e que dizem: “Ser mirandês ye sexy” ou “já conheces a minha língua? MIRANDÊS”.
“Estas t-shirts foram um sucesso, pois os mirandeses gostam muito de mostrar as suas raízes e nada melhor que estas frases para os identificar em qualquer sítio”, apontou Ivo Mendes, dirigente associativo.
Interessados em tudo o que acontece no concelho mirandês, os jovens dirigentes aproveitam todas as oportunidades para divulgar a língua mirandesa. A título de exemplo, Ivo Mendes recordou a falsa notícia da existência de crocodilos no rio Douro Internacional, notícia que levou à criação de mais t-shirts com frases em mirandês: “Eilhes andan por ende?! Naide ls biu?!”.
Ainda assim, Ivo confessa que tem sido difícil colocar os jovens a falar mirandês, apesar de, hoje em dia, já não existir qualquer “vergonha” em falar a língua.
“Os mirandeses sentem-se orgulhosos com a sua especificidade, mas não usam a língua no dia-a-dia. Nem os jovens, nem as pessoas mais adultas”.
Foi nesse sentido que a Associação apostou, no mês passado, na promoção da campanha “Bibe an Mirandês”, para assim comemorarem também os dez anos da oficialização da língua. Outra das iniciativas a desenvolver nesse âmbito é a criação de um jornal e de um programa para rádio, ambos em Mirandês. Os jovens propõem-se, ainda, a traduzir o material de restauração e do comércio e realizar vários cursos para que o uso do Mirandês se vulgarize no concelho.
Ser Mirandês
Mas o que é para um jovem este sentimento de ser mirandês? Num apelo às raízes e ao modo de vida rural que ainda persiste, Ivo responde: “é crescer numa comunidade familiar onde dizemos boa tarde a todas as pessoas por quem passamos na rua; é acompanhar os colegas de turma da primeira classe até ao 12º ano, criando com eles laços para toda a vida”. Mas, mais do que isso, na opinião do jovem, ser mirandês é também “saber receber, saber acolher com maior hospitalidade, com maior sentimento, fazer sentir bem quem nos visita”. É ter uma língua diferente e “não ter vergonha de a falar”, é “ser boémio, é viver de noite e trabalhar de dia” mas, acima de tudo, “é gostar de Miranda, é sair, mas voltar”.
É talvez por causa deste sentimento que a ARJM consegue envolver nas actividades que promove vários jovens oriundos de outra localidade, fazendo-os “absorver Miranda”.
“Fazemos com que tenham contacto directo com a nossa terra, mostrando-lhes todo o nosso património cultural, linguístico, gastronómico, paisagístico e arquitectónico”. Como “pano de fundo” são realizados eventos que promovem a cultura tradicional, desde a dança à música, passando, obviamente, pela língua.
Foi a ARJM que promoveu, em Dezembro do ano passado, o primeiro festival de cultural tradicional, o Geada, e foi também através do apoio da Associação que se formou o grupo dos Gaiteiricos de Miranda, que, a par com o Grupo de Pauliteiros da Cidade de Miranda do Douro, contribuem para preservar e “exportar” a cultura mirandesa para os restantes pontos do globo.
À espera de uma sede
Apesar de não terem uma sede física onde possam reunir, a ARJM não baixa os braços. Distinguida pelo Instituto Português da Juventude pelo dinamismo, capacidade empreendedora, cooperação e trabalho realizado no apoio aos jovens e à comunidade, a ARJM vai agora colocar em prática dois novos projectos de informação e sensibilização. Um deles é o programa “Cuida-te”, direccionado para as escolas, para a prevenção de consumos nocivos. O outro é o “Consumidor Jovem Responsável”, que visa a educação para a poupança.
Recentemente, a Associação viu ainda ser aprovada uma candidatura ao programa da União Europeia, Juventude em Acção, do projecto: “Norte Portugal e Galiza, dois em um: comunicação, tradição e cultura”, a implementar no final de 2009.
A dinâmica que pretendem imprimir ao concelho, quer através das actividades que promovem regularmente, como as Férias da Juventude, quer através de novas iniciativas, resulta da forma como associativamente se assumem.
“Não somos a típica associação recreativa que vive das receitas do bar da sua sede, nem somos uma associação com técnicos remunerados e com fins específicos, a funcionar como modelo empresarial”, apontou Ivo Mendes.
Embora tenham a consciência da “pouca importância” que os organismos públicos locais lhes dão, como associação, não querem existir apenas para “usufruir de apoios ou do estatuto de dirigentes associativos” e lamentam que a autarquia não lhes conceda um espaço físico para uma sede.
“Olham mais para nós como uma despesa e como um contrapoder do que como uma instituição parceira e complementar com a qual poderiam estabelecer projectos conjuntos”.
Ainda assim, querem continuar a fazer um serviço “dirigido aos jovens” e pela “terra” que amam porque, recordando a comparação do ministro da Cultura com os “loucos gauleses”, aquando da última visita ao distrito, dizem que “loucos” seriam se nada fizessem e ficassem de baixos cruzados a assistir ao desaparecimento da Lhéngua e da cultura mirandesa.