Nos dez anos do mirandês como segunda língua oficial de Portugal, os estudiosos da "lhéngua" alertam: apesar de não estar em perigo, o mirandês está ameaçado pela modernização, sendo importante criar mecanismos para a sua manutenção.
O mirandês sobreviveu ao longo dos séculos devido, principalmente, ao isolamento da região em que a língua estava inserida e ao facto de ser transmitida através da tradição oral. Ora, actualmente, com a globalização e consequente "ameaça" de outras línguas, mais faladas através dos mais diversos meios de comunicação, os riscos são iminentes.
Sete mil pessoas falamum idioma que conta séculos
O mirandês é uma língua falada no nordeste transmontano, ocupando uma área de influência de cerca de 500 quilómetros quadrados, com principal incidência no concelho de Miranda do Douro e parte do concelho de Vimioso.
A "lhéngua" teve a sua origem num dos romances peninsulares formados a partir do latim vulgar, nomeadamente no asturo-leonês, pelo que pertence ao grupo das língua românicas. Sofreu grande influência do português, sobretudo a partir do século XVI, e foi conservada nas aldeias envolventes como língua de transmissão oral.
No entanto, o mirandês foi dado a conhecer ao Mundo como uma forma diferente de falar em 1882, pelo filólogo José Leite de Vasconcelos. O processo de normalização da "lhéngua" foi iniciado em 1995, com a publicação de uma Proposta de Convenção de Língua Mirandesa.
O renascimento da língua mirandesa, após um período em que o seu único embaixador era o já falecido padre António Maria Mourinho, surge em 1986, com o início do ensino do mirandês na então Escola Preparatória de Miranda do Douro, pela mão de Domingos Raposo, o primeiro professor a leccionar o mirandês como disciplina opcional.
Estima-se que o número de falantes do mirandês não deverá ultrapassar as sete mil pessoas.