Dia-a-dia de um distrito rural, doze concelhos e meia dúzia de pequenas cidades encravadas nas montanhas mais a norte de Portugal
06 de Janeiro de 2009

Há muitos anos que a aldeia de Vale de Salgueiro, Mirandela, é conhecida por uma tradição que divide opiniões sobre as possíveis consequências futuras. Na noite do dia 5 de Janeiro, as crianças são incentivadas pelos familiares a fumar cigarros.



 

"Nessa noite, são os familiares que compram os maços de tabaco para dar aos garotos", explica Roger Lopes, o presidente da Junta de Freguesia.



 

Ninguém sabe ao certo como e quando começou esta estranha tradição, nem tão pouco o que ela possa significar.

 

"Sei que se trata de uma festa secular porque os mais idosos já não se lembram de quando terá começado, mas falou-se em tempos que os mais jovens fumavam para simbolizar a emancipação", acrescenta o autarca.



 

Também Emília Tomé, habitante de Vale de Salgueiro, revela que esta tradição é longínqua, porque a sua mãe "faleceu com 94 anos e não tinha ideia de quando terá começado", diz.



Mas nesta festa dos Reis - também chamada festa dos rapazes - é sempre escolhido alguém da localidade para protagonizar a figura do Rei, que tem a seu cargo a organização da festa e que ostenta uma coroa revestida a veludo e adornada de objectos em ouro emprestados pelos habitantes, como símbolo de riqueza e poder.



 

"Este ano vai levar muita fantasia porque temos medo de um assalto", conta a avó de Ângelo Belchior, o jovem de 18 anos que foi escolhido para ser o Rei de 2009.

A festa dura dois dias. Na noite de ontem, o Rei percorreu todas as habitações da aldeia, sempre com o grupo de gaiteiros a acompanhar, distribuindo cerca de trezentos quilos de tremoços e cem litros de vinho, em cabaças tradicionais.



 

Entretanto, no centro da aldeia prepara-se o baile com uma aparelhagem sonora e, quando o Rei chega, as pessoas presentes são convidadas a dançar a "Murinheira", (típica dos Celtas) ao som das gaitas de foles e dos bombos.



 

Esta terça-feira, a alvorada acontece às seis e meia da manhã. O Rei, ao som das gaitas de foles e dos bombos, volta a percorrer toda a aldeia para receber a "manda" (donativos) para custear os cerca de dois mil euros de despesa.



 

No final da manhã, a festa termina com a celebração da missa, ocasião aproveitada para colocar a coroa em outro habitante da aldeia que terá a responsabilidade de organizar a festa de 2010.

O Rei não esconde a satisfação em ser o protagonista e é mesmo um claro exemplo de como a tradição das crianças fumarem pode não ter consequências negativas.

 

"Quando tinha oito anos, fumei vários cigarros, na festa, e agora já tenho dezoito e não sou fumador". Conclui.

 

Também António Fernandes, de 49 anos, não vê mal nenhum nesta tradição.

 

"Cerca de 90% do pessoal da minha geração, não fuma, apesar de o ter feito quando eram crianças", garante.

 

Fernando Pires in JN

Foto: Mensageiro Notícias

publicado por Lacra às 11:08
últ. comentários
obrigado Cris:)
Bem vinda :))
Helder Fráguas sofreu a perda da sua companheira, ...
Para mim e para muita gente a volta às adegas para...
Estou habituado na leitura de blogs on line, adoro...
me llamo fedra soy de santa fe argentina tengo 9 ...
Carissimos,Eu não sei quem inseriu o comentário em...
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