Dia-a-dia de um distrito rural, doze concelhos e meia dúzia de pequenas cidades encravadas nas montanhas mais a norte de Portugal
02 de Dezembro de 2008

Rodrigo tem seis meses e nos primeiros tempos de vida pouco pôde estar com a mãe, Filipa Madeira. A jovem, de 26 anos, deu à luz em Maio, e desde então tem estado quase permanentemente internada, segundo ela devido à negligência dos médicos no Hospital de Bragança. Actualmente, está na Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital de Santo António, no Porto, e não há data prevista de alta. Só uma certeza: não poderá ter mais filhos.

Há uma queixa enviada em Junho à Inspecção-Geral das Actividades de Saúde (IGAS), estando a decorrer um processo de averiguação.

O calvário de Filipa começou depois do parto de cesariana, altura em que foi transportada para enfermaria cheia de dores, o que a impedia de pegar no filho ao colo.

Quatro dias depois entra de serviço o médico Strecht Monteiro, que lhe dá alta de imediato. Na queixa ao IGAS, a jovem descreve a situação da seguinte forma: "[...] arrancou-me o penso e, sem me fazer qualquer desinfecção, disse-me que a ferida precisava de andar ao ar e... que aquilo não era nenhum hotel. Já estava a fazer muita despesa ao Estado e que era melhor ir embora porque se me acontecesse alguma coisa deixava de ser responsabilidade do hospital".

Fez 80 quilómetros até casa, em Vila Flor, onde um dia depois teve de ser assistida porque a febre não passava. Foi-lhe diagnosticada uma infecção na ferida da cesariana. O antibiótico que lhe foi receitado de nada serviu.

Dois dias depois volta ao Hospital de Bragança, ainda com febre, e "a Dr.ª Adelaide Abrantes, de urgência, ordenou à enfermeira que fossem retirados os agrafos e começaram a espremer, abrindo-me a ferida, para que o líquido saísse, e colocaram-me um dreno. Sofri muito ao ponto de gritar".

A jovem afirma ter estado quatro dias "com a barriga aberta", sem realização de qualquer exame. Ao fim de quatro dias é operada, mas a dimensão da infecção já era muito grave. Teve remover o útero.

Contactada pelo CM, fonte do Hospital de Bragança afirmou estar a colaborar com o IGAS para o "esclarecimento da verdade".

 

"QUERIA VER O FILHO A CRESCER"

"Além de todo o sofrimento a que tem sido sujeitada, Filipa desejava, sobretudo, ver o filho a crescer. Até ao momento teve poucas oportunidades para estar com ele", disse ao CM o marido, Vítor Pereira.

A situação clínica da mulher levou também a que Vítor mudasse a sua vida, mas o pior é em muitas situações ver o desânimo da esposa. "Às vezes está mais deprimida, outras encontro-a com mais força", disse.

A revolta do marido de Filipa fica-lhe estampada na face quando relembra o tratamento dispensado à esposa no Hospital de Bragança. "Quatro dias, sem que lhe fizessem nada, nem um exame. Se fizessem um trabalho sério, isto não atingiria as proporções que está a ter agora, com seis meses de sofrimento. Nunca me disseram porque é que não a operaram logo", afirmou Vítor Pereira.

 

SEM DATA PREVISTA PARA A ALTA

Após a histeroctomia — remoção do útero – esteve até 25 de Maio nos Cuidados Intensivos em Bragança. A situação começou a agravar-se cada vez mais e foi transferida para o Porto. " A minha vida estava em risco, fui numa ambulância do INEM acompanhada por um médico e anestesista, fui entubada, pois estava com problemas respiratórios e com anestesia geral para que pudesse fazer a viagem", descreveu na queixa à IGAS. Desde aí já teve de ser submetida a três intervenções cirúrgicas.

Até Setembro passava quinze dias no Hospital e quinze em casa, mas nessa altura apanhou um outro vírus e a infecção levou outra recaída, que lhe afectou os intestinos, os rins e os pulmões. Voltou ao internamento na Unidade de Cuidados Intensivos e ainda não tem data prevista para a alta.

 

PORMENORES

DORES

Quando teve pela primeira vez alta a 17 de Maio, Filipa teve muitas dores durante a viagem de 80 quilómetros para casa. "Pedia-me para ir mais devagar e diminuir a trepidação", disse Vítor Pereira, o marido.

48 HORAS DE ESPERA

Como as dores não passavam, Filipa foi vista por um médico em Vila Flor. Diagnosticaram-lhe uma infecção na ferida da cesariana, receitando-lhe um antibiótico. Aguardou 48 horas, a fim de que fizessem efeito, mas a febre não passou e começou a segregar um líquido anormal.

ISOLADA NUM QUARTO

As queixas sobre Strecht Monteiro repetem-se. "Encontrou--me no corredor e disse-me: ‘Então, pronta para ir para casa?’ ao que eu respondi que não, que estava cheia de febre. ‘Isso é para curar em casa’, disse ele." Ainda mais: "Ordenou que não me pusessem penso e assim me deixou durante dois dias isolada num quarto."

João Carlos Malta
Correio da Manhã


 

O grupo de teatro "O Bando" traz a Bragança, dia 3 e 4 de Dezembro, a peça "Grão de Bico". Baseado num conto de tradição oral, a peça é recriada num ambiente intimista no qual o multimédia estabelece a ponte para lá do (in)visível, entre o espectador e a sua imaginação.

Encenado por João Brites, com interpretação de Fátima Santos e Raúl Atalaia, a peça estará em cena em quatro sessões, dia 3 e 4 de Dezembro, às 10h30 e 15h00.

A entrada é livre.

 

publicado por Lacra às 07:00
últ. comentários
obrigado Cris:)
Bem vinda :))
Helder Fráguas sofreu a perda da sua companheira, ...
Para mim e para muita gente a volta às adegas para...
Estou habituado na leitura de blogs on line, adoro...
me llamo fedra soy de santa fe argentina tengo 9 ...
Carissimos,Eu não sei quem inseriu o comentário em...
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