Fundação luxemburguesa foi “essencial” para ajudar a concretizar o projecto. Lar vai acolher 55 utentes e ajudar a desenvolver a economia com a criação de 35 postos de trabalho, mas faltam os acordos de cooperação com a Segurança Social
Já está em funcionamento o novo Lar de Terceira Idade do Lombo, da Santa Casa da Misericórdia de Macedo de Cavaleiros. Um “dia feliz” para o provedor, Castanheira Pinto, que frisou a cooperação com a Fundação luxemburguesa Félix Chomé como “essencial” para levar a cabo a realização daquela obra.
A obra, cujo custo ascendeu aos 2,3 milhões de euros, foi comparticipada quase na totalidade pela Fundação do Luxemburgo, que, em troca, pediu prioridade aos possíveis utentes familiares de emigrantes naquele país.
“É um dia feliz porque candidatei o projecto várias vezes a financiamento e nunca consegui.
Foi através de um processo iniciado pelo Pe. Vítor Melícias e pelo embaixador de Portugal no Luxemburgo que conseguimos avançar”, contou, emocionado, o provedor da Santa Casa, Castanheira Pinto.
Com capacidade para 55 utentes em lar e 40 em apoio domiciliário, o Lar do Lombo vem dar resposta a uma área geográfica do concelho de Macedo de Cavaleiros que estava mais “desprotegida” em termos sociais e onde a Santa Casa da Misericórdia já possui um casal agrícola que produz, entre outros produtos agrícolas, vinhos que já foram premiados diversas vezes, (vinhos Quinta do Lombo).
A par das excelentes condições de acolhimento dos idosos, a infra-estrutura está apetrechada com 31 amplos quartos,( 23 duplos, sete individuais e um quarto de casal), cinco salas de estar, uma sala de actividades lúdicas e recreativas, consultório médico, barbearia e cabeleireiro, e duas unidades de banho acompanhado.
Tudo foi pensado para dar a maior qualidade e conforto aos utentes, existindo, inclusive, quartos para doentes terminais que têm acoplada uma salinha para maior privacidade dos familiares.
“É quase um hotel de cinco estrelas!”, referiu Castanheira Pinto, apontando, no entanto, a necessidade de vir a estabelecer acordos de cooperação com a Segurança Social, por forma a admitir utentes com maiores dificuldades económicas.
“O Lar ainda não está lotado porque não temos acordos de cooperação com a Segurança Social e, assim, o utente terá de pagar a mensalidade na totalidade e nem todos têm capacidade para o fazer”, notou o provedor.
Também Beraldino Pinto, presidente da câmara de Macedo de Cavaleiros, frisou a necessidade de, a curto prazo, vir a estabelecer acordos com a Segurança Social: “é o objectivo da Santa Casa da Misericórdia, é uma grande necessidade do município e a nossa grande ambição”.
Esse poderá vir a ser o “calcanhar de Aquiles” da nova infra-estrutura da Santa Casa da Misericórdia de Macedo de Cavaleiros. Sem acordos de cooperação, os idosos com reformas mais baixas dificilmente conseguirão suportar os custos. Ainda assim, será necessário esperar para analisar quais as verbas destinadas pelo Governo para o programa do próximo ano e quais as possibilidade de incluir alguns utentes do Lar do Lombo em acordos de cooperação, conforme explicou Teresa Barreira, directora regional da Segurança Social.
“Não posso prometer nada porque não tenho poder de antever como serão os acordos de cooperação do próximo ano. É necessário ver quais as verbas envolvidas no programa do próximo ano”, adiantou a responsável. Presente na inauguração da nova valência, Teresa Barreira não deixou de notar a “importância” da colaboração das Instituições Particulares de Solidariedade Social com outros parceiros, deixando um repto à Fundação luxemburguesa.
“É um projecto grande que deve ser acarinhado e que esperemos que possa ser replicado também noutros pontos do distrito. Aproveita-se para deixar o repto a esta fundação luxemburguesa para que se associem a outros projectos no distrito que, eventualmente, ainda sejam necessários”.
Esta foi a primeira vez que a Fundação Félix Chomé apoiou financeiramente uma obra num outro país. Roland Hoff, presidente da instituição, considera que este apoio significativo é, também, uma forma de “agradecer” à comunidade emigrante portuguesa que, nos anos 60/70, contribuíram com o seu trabalho para o desenvolvimento económico e social do Luxemburgo.
“Este apoio surge como forma de agradecimento à população portuguesa e tem todo o sentido que se centre aqui na região Norte, que é de onde os portugueses emigrantes são maioritários”, apontou.
Actualmente, o Luxemburgo conta com cerca de 80 mil portugueses num total de meio milhão de habitantes. A contrapartida exigida pela Fundação Félix Chomé pela colaboração dispensada é que o Lar do Lombo admita prioritariamente os familiares de emigrantes que vivam naquele país.
Solução de financiamento pioneira e inédita
O Pe. Vítor Melícias foi um elemento fundamental para que se concretizasse o apoio da Fundação Félix Chomé à construção do Lar do Lombo. O pároco e presidente honorário da União das Misericórdias contou aos jornalistas que, uma altura, foi contactado pelo embaixador de Portugal no Luxemburgo sobre a intenção de uma Fundação, neste caso a Fundação Félix Chomé, apoiar uma obra social em Portugal.
O conhecimento que o Pe. Vítor Melícias tinha desta zona do interior levou-o a contactar o Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Macedo de Cavaleiros, Castanheira Pinto, tendo-se verificado que a construção de um lar poderia ser uma boa resposta.
No dia da inauguração, o Pe. Melícias constatou que foi feita “uma boa opção”.
“Foi escolhida uma aldeia do interior que tem uma população muito envelhecida e que precisa de respostas adequadas. Fico feliz porque foi feita uma boa opção”.
A solução foi pioneira e tem a particular característica de ter partido da Fundação Félix Chomé naquilo a que o Pe. Melícias chamou de “solidariedade intra-europeia” que deverá “servir de exemplo ao que vai ser o futuro da humanidade”.