A reincidência de ex-reclusos no crime e o regresso aos estabelecimentos prisionais ainda é um problema crónico que não se consegue evitar. A denúncia foi feita por Mário Torrão, director do Estabelecimento Prisional de Bragança e de Izeda, no âmbito da jornada de trabalho promovida pela Cruz Vermelha do distrito de Bragança, no dia 8 de Maio.
Segundo Mário Torrão, a situação tem vindo a melhorar com a aposta na formação, durante o período de reclusão, e com as parcerias que têm sido realizadas com a câmara de Bragança e com algumas empresas privadas. Mas, ainda assim, “é necessário fazer mais”.
“A sociedade tem um discurso hipócrita, não olha para o recluso como alguém que esteve temporariamente detido e a actual crise económica também não tem ajudado”, afirmou.
A par disso, o responsável nota que muitos reclusos regressam ao local onde viviam e nem sempre os bairros de onde são originários “convidam à reinserção social”. Exemplo disso, segundo apontou, é o bairro da Mãe d’Água, na cidade de Bragança, que “abastece os toxicodependentes da cidade”.
Em Bragança, prevalecem os detidos por crimes contra o património ou crimes de tráfico de droga. No que diz respeito aos crimes de tráfico de droga, há os casos dos traficantes não consumidores e, na sua maioria, os casos em que os detidos têm historial de toxicodependência.
A estadia na prisão visa tornar as pessoas “mais responsáveis” e tem como grande objectivo a “reinserção social do condenado”. Mas, quando os ex-reclusos regressam à sociedade, a realidade é outra.
“A reinserção social é algo que, ou se faz com profissionalismo, tentando a integração laboral, ou há reincidências”, apontou.
Mário Torrão nota, no entanto, que a experiência de trabalho no exterior se tem revelado “muito positiva” e diz mesmo que, as empresas privadas e a autarquia têm feito “um trabalho espectacular”.
A luta contra a exclusão social dos detidos e contra a segregação passa também pela formação e por “pequenos gestos” que valorizam estes indivíduos e os ajudam a aumentar a auto-estima, como apontou.
“A Cruz Vermelha tem facultado formação e, por exemplo, atribui óculos a quem tem problemas de visão. São pequenos gestos muito significativos que demonstram a estes indivíduos que alguém se preocupa com eles”.
Proximamente a delegação da Cruz Vermelha de Bragança vai apostar na realização de mais dois cursos de formação no Estabelecimento Prisional de Izeda. Segundo Joaquim Queiroz, presidente da delegação local, “a exclusão social ainda é um aspecto que se sente muito ao nível dos reclusos”.
A nível local, a Cruz Vermelha vai, por isso, continuar a apostar também no programa de voluntariado para as prisões.